Com isso, lançou em 2018, o seu álbum de estreia “Laço umbilical”. Este ano, Lucibela chega ao mercado com o seu segundo álbum “Amdjer”, um trabalho com mornas e coladeiras, os seus ritmos de paixão, num registo dedicado às mulheres cabo-verdianas. A cantora tem agendado dois shows em Cabo Verde, o primeiro no dia 28 deste mês, na Cidade da Praia e o segundo no dia 29, na Cidade do Mindelo, para apresentar o seu novo álbum. Numa entrevista ao Expresso das Ilhas, falou do seu novo disco e da sua carreira artística.
“Não é um disco só pensado nas histórias bonitas das mulheres, mas sim a pensar que sofremos, trabalhamos muito para criarmos os nossos filhos muitas vezes sem ajuda, às vezes somos mal interpretadas simplesmente por sermos simpáticas os homens pensam que estamos disponíveis. É um disco que tem essa mensagem da mulher no seu todo”, revela.
Lucibela Freitas conta que este novo disco traz duas composições da sua autoria, porque durante a pandemia compôs cerca de sete músicas, mas que já tinha estado a tentar escrever há muito tempo.
“Acho que não estava com paciência, mas agora na pandemia com muitos dias em casa, gravei uma morna intitulada “Alma Gémea” e uma coladeira “Zum Zum”. A morna é dedicada a todos aqueles que acreditam que todos temos uma Alma Gémea. Eu acredito nisso”.
Já a coladeira, afirmou, está baseada na vivência dos cabo-verdianos, para retratar as guerras de casais que acontecem nas zonas, e que todos saem às ruas para ver e fazer fofoca.
Lucibela Freitas estreou-se neste álbum como compositora e disse que está a se sentir muito bem no novo papel. “Já começamos a tocar as músicas em alguns concertos que já fiz e o tema Alma Gémea está a ser muito bem-recebida pelas pessoas. Então isso me dá mais força de pensar que talvez um dia posso ser uma boa compositora”.
Para este álbum disse ter escolhido compositores que admira como Nhelas Spencer, Manel d’Novas, Tibau Tavares, Élida Almeida, Toy Vieira e Luís Lima. “Tenho compositores mais jovens que estão a surgir como o Ary Duarte que para mim é um excelente compositor; tenho o Aldair Neves (Daya) que tem feitos lindas composições, mas até agora ele não deu as suas músicas aos artistas”.
“Depois temos músicas inéditas de um grande artista e compositor cubano que é Emílio Moret, que é a única música que está no disco que não é tradicional, mas sim um bolero, cantado em cubano mesmo. Conheci esse senhor muito simpático e ficamos amigos e ele me deu essa música inédita que gostei e resolvi gravá-la”, acrescenta. A cantora explicou que a maioria das músicas que fazem parte deste disco são inéditas, mas traz também músicas que muitas pessoas já conhecem como “Adeus Mama”, “Estranhe” que já foi gravado por outras pessoas, “Amdjer ká Bitche”, e o resto é inédito.
“Tenho uma música de Miquinha Ilha Formose, que é uma pessoa de São Nicolau que fez essa morna para São Nicolau e quis gravá-la também para dedica-la à minha ilha que amo muito (São Nicolau)”.
Shows de apresentação
Em relação aos dois shows em Cabo Verde, no país disse que vão apresentar um disco novo, onde será tocado quase todos os temas do disco e algumas músicas também do primeiro álbum. “Estou muito feliz, pois é sempre bom fazer concertos em Cabo Verde, apesar de não ter feito muito, mas gostaria de fazer muitos mais. Estou muito contente e ansiosa”, revela.
Para os dois shows garante que estará no palco a Lucibela que toda a gente conhece com a sua morna e coladeira. “É meu registo é lá que me sinto bem e à vontade. Não me vejo a cantar outra coisa que não seja morna e coladeira. Amo as minhas coladeiras e gosto muito da morna. E quero evoluir cada vez mais nesta área e penso que por um bom tempo as pessoas vão me ver nesse registo”.
“Vamos fazer shows de apresentação em Cabo Verde, depois do Verão pretendemos fazer concertos em Portugal e na França. No mês de Agosto tenho um concerto em Portugal, no Festival Artes à Rua, em Évora. Depois em Setembro vamos para uma tournée nos Estados Unidos da América, onde já tenho 12 concertos confirmados e possivelmente pode-se confirmar mais. No mês de Outubro, em princípio, vamos ter tournée, mas de homenagem à Cesária Évora, porque faço parte da Orquestra Cesária, e vamos também ter uma pequena tournée nos Estados Unidos da América”, anuncia.
Para o show de apresentação em Cabo Verde a cantora disse que espera contar com a presença de muitas pessoas, para irem ouvir as suas músicas, “porque sempre esperamos apoio da nossa terra, e digo-lhes para irem aos shows, quem gosta da morna vai ouvir a morna e aqueles que preferem dançar uma coladeira comigo que estejam à vontade, para podermos passar uma boa noite”.
Tributo à Cesária Évora
Conforme disse, fazer parte de uma Cesária Évora Orchestra é muito bom, apesar de não ter tido oportunidade de conviver com a Cesária Évora. “Ela é uma pessoa que sempre foi referência, sempre ouvi muito as músicas dela e poder estar no meio das pessoas que conviveram com ela e ouvir a suas histórias, tanto do pessoal da Lusafrica que trabalharam com ela, como das pessoas que já foram para os seus concertos ou tem alguma ligação com ela, é incrível".
Lucibela Freitas disse que depois de ter encontrado o produtor José da Silva e convivido com toda a sua equipa, tem aprendido todos os dias com eles. ”Quero ter uma carreira musical, na área da música tradicional como morna e coladeira, mas sei que não é algo que se aprende de dia para noite, ao contrário daquilo que as pessoas pensam, leva anos. E vamos sempre aprendendo qualquer coisa, nas viagens e nos concertos”.
“A minha carreira artística está numa fase muito boa e sei que se não fosse a pandemia as coisas estariam muito melhor, mas esperamos recuperar agora. O meu sonho é ultrapassar as minhas dificuldades e ser cada vez melhor nesta área que escolhi”, confessa.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1078 de