Nasceu na França, mas escolheu Cabo Verde para ser sua casa. Desde que chegou a Cabo Verde, o artista apaixonou- se pelas gentes do interior de Santiago, onde tem vindo com muita frequência.
“Já faz dois anos que estou de volta a Cabo Verde. Conheço a ilha de Santiago há muitos anos. Cheguei cá pela primeira vez em 1991 e fiquei cá por 15 anos. Naquela altura trabalhava no Centro Cultural Francês na programação. Costumava ir ao interior de Santiago à procura dos antigos tocadores de gaita e cimboa e das batucadeiras. Agora tenho mais tempo para ir ao interior e sempre procuro ter contacto com a população”, conta.
Desse contacto com a população do interior de Santiago, Jacques Chopin começou a fazer fotografias de pessoas humildes que vivem nesses concelhos.
“Foi sempre interessante descobrir os lugares e falar com as pessoas e foi assim que surgiu esta exposição. Quis homenagear essas pessoas que vivem de forma humilde, mas com dignidade e resistência. O objectivo desta exposição é dar mais visibilidade a essas pessoas que vivem nesses lugares recônditos”, explica o artista.
Nesta exposição Jacques Chopin partilha o fascínio que sente pelos actores quotidianos da cena cabo-verdiana. Mas a sua visão nada empresta do pitoresco ou do folclórico.
Autodidata, Jacques Chopin aborda a matéria sem preconceitos escolares. O toque, o cromatismo são mais uma questão de sensibilidade do que de técnica e impõem uma imagem forte de sinceridade.
A selecção das fotografias para a exposição, conforme nos contou, não foi fácil, porque fez muitas fotos este ano. “Foi difícil escolher as fotos mais interessantes para mostrar nesta exposição”.
Sobre a escolha do título da exposição, explica que “Nôs Gentes” porque se sente cabo-verdiano e as pessoas de cá são também sua gente. “Já tenho a nacionalidade cabo-verdiana, então agora sou daqui. As pessoas de Cabo Verde são minha gente também”.
Ao todo são cerca de 30 quadros expostos na Galeria Intelectual, no Palácio da Cultura, que podem ser visitados até 30 deste mês. “As fotos expostas foram todas feitas recentemente. Na altura que vivia em Cabo Verde fiz muitas fotos e quando regressei decidi entregar as cópias a essas pessoas. Descobri que muitas dessas pessoas já não estão mais entre nós e é sempre um momento muito emocionante quando os familiares veem as fotos de um avô que já morreu”.
Paixão pela pintura
Jacques Chopin descobriu a sua paixão pela pintura em Cabo Verde, país onde viveu 15 anos e ao qual está muito ligado a ponto de adquirir a nacionalidade.
Produziu e participou em várias exposições individuais e colectivas em Cabo Verde, Chade, República Democrática do Congo, mas também na França, incluindo uma, em 2002, com grandes artistas cabo-verdianos, na Maison des Sciences de l’Homme, em Paris.
Seus temas favoritos são retratos e o estilo figurativo, embora já tenha experimentado outros géneros. Algumas das suas pinturas foram para os quatro cantos do mundo.
Jacques alia a pintura a outra paixão: a das artes marciais que pratica há quarenta e dois anos.
Além das fotografias que estão patentes no Palácio da Cultura, o artista decidiu levar também os quadros que pintou para uma exposição que apresentou há alguns anos. “Comecei a pintar em Cabo Verde, tinha tempo livre e aproveitei para pintar e desde então nunca mais parei. Gosto de pintar pessoas, não gosto de pintar paisagens. Gosto de dar vida a uma pessoa”.
Texto publicado originalmente na edição nº1091 do Expresso das Ilhas de 26 de Outubro