Pascoal Fernandes é de opinião que a Cimboa já poderia estar num outro patamar, mas esclareceu que sendo um instrumento de fraca sonoridade não estimula muito.
“A Cimboa sendo um instrumento monocórdico exige muita levesa do dedo porque, ao contrário da guitarra ou do violino, que são parecidos, onde é necessário precionar a corda, a Cimboa é só o contacto, basta o contacto. Apesar de ser muito antigo é digital”, aponta.
Aquele fabricante disse que já foi ensinado em toda a ilha de Santiago como é que se toca a Cimboa, mas os jovens querem algo que dê resultado de imediato. “A verdade é que temos que insistir e continuar paulatinamente, sem andar aos empurrões e ir calmamente a insistir com isso. Posso não chegar lá, mas quero deixar isso em condições que outra pessoa dê continuidade”.
Sem avançar com mais informações, Pascoal Fernandes afirmou que já participou com a Cimboa na gravação de um disco, que está para sair. “Isso fica como surpresa para quando o disco sair para ver que houve participação de Domingos Fernandes Pascoal e verem até onde a Cimboa já chegou”.
Pascoal Fernandes conta que tem feito o seu trabalho na divulgação da Cimboa, mas que é preciso fazer muito mais. “Acho que há necessidade de uma melhor divulgação. Posso dizer que tenho sorte, pois o programa da Televisão de Cabo Verde (TCV), `Show da Manhã`, me tem convidado várias vezes para falar da Cimboa, a Paroquia de São Tolentino, satisfazendo a vontade das mulheres da Coral de São Domingos, permitiu- -me tocar uma música no dia de Natal dentro da celebração eucarística. No final, todos ficaram de boca aberta porque não conheciam a sonoridade da Cimboa”.
“Pensavam que a Cimboa só tinha exclusividade para tocar no batuque, mas quando ouviram na igreja com teclado e guitarra ficaram a saber da sonoridade desse instrumento. Já em São Domingos, o pessoal tem noção daquilo que é a Cimboa”, frisa Pascoal Fernandes.
Na Cidade da Praia disse ter tocado na Rua Pedonal, no Instituto do Património Cultural (IPC), na Achada de Santo António e na Presidência da República, “só que esses eventos são restritos. Há muito que venho tentando tocar no Festival de Praia Baixo. Cheguei a fazer uma demostração em Pedra Badejo com a presença de Nha Nácia Gomi e António Denti D`Oru para dar um cheirinho da Cimboa”.
“Insistentemente tenho tentado ‘impingir’ a Cimboa e dar um cheirinho. Já levei a Cimboa ao Festival Sete Sois Sete Luas, na Cidade Velha, a convite da Câmara Municipal”, diz.
Além dessas actuações, Pascoal Fernandes disse ter estado na Fonartes em São Vicente com a sua Cimboa onde fez um workshop e uma demostração de como é que se toca esse instrumento. “Sempre que posso tenho tentado levar um cheirinho da Cimboa”
Património Cultural
Com a elevação da Cimboa a Património Cultural Imaterial da Salvaguarda Urgente, Pascoal Fernandes disse que espera que haja eventos onde esse instrumento venha a ser uma peça de referência. “Acho que a intenção de levar a Cimboa à categoria de património é no sentido de promovê-la. Pelo menos, a intenção do ministro da Cultura e do Governo é promover a Cimboa, divulgá-la e fazer com que todo o mundo a conheça”.
Na mesma linha, disse que tem recebido elogios de grandes músicos brasileiros, franceses e espanhol que visitam o seu atelier, “e que me dizem que tenho uma relíquia nas mãos e que esse instrumento tem de ser preservado”.
“Somos frutos de mistura de raças, então queiramos ou não somos sujeitos as influências estrangeiras, mas é bom darmos valor àquilo que é nosso porque o turista que vem para Cabo Verde não vem para ver o que lá deixou, mas vem aqui para ver o que só aqui existe”.
Texto publicado originalmente na edição nº1093 do Expresso das Ilhas de 09 de Novembro