Instado a comentar, na Praia, as declarações do músico Paulino Vieira, em entrevista no fim de semana à agência Lusa, o ministro notou que a candidatura da morna a património mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), classificação que obteve em 2019, “é um grande ganho para a cultura de Cabo Verde”.
Na entrevista à Lusa, o cantor e multi-instrumentista disse que o dossiê “tem histórias falsas”, nomeadamente “gravações em que estão pessoas a tocar”, mas que disse que era ele a tocar.
“Um documento aprovado mundialmente, sendo nele descoberto três falácias, já dava direito a ser desclassificado. A UNESCO foi e é e continuará a ser irresponsável por ter aprovado um folclore que não conhece”, apontou.
E prosseguiu: “A morna passou a ser uma vítima de um flagrante, em que a sua história está falsificada e defraudada num documento que foi aprovado mundialmente”.
Considerando que “se fosse fácil alguém já o teria feito antes”, o ministro relembrou que a candidatura da morna não foi baseada na história da Cesária Évora, mas sim na história do povo cabo-verdiano. E enfatizou o facto de, por exemplo, o pescador, o carpinteiro, o pedreiro, as pessoas mais humildes e as mais letradas cantarem e viverem a morna como parte sua.
“Estamos a falar de uma opinião, do IPC [Instituto do Património Cultural], de todo o quadro técnico que fez a candidatura da morna, da UNESCO, de todos os especialistas internacionais que validaram a candidatura da morna”, insistiu a mesma fonte, dizendo, por isso, tratar-se apenas de uma opinião.
“Devo dizer taxativamente que é falso, porque a validação da candidatura é feita com base em testemunhos e a aceitação de quem pratica o género”, continuou o governante, entendendo que o “grande escândalo nacional” é que parece que quase ninguém estudou o dossiê de candidatura da morna a património imaterial da humanidade.
O ministro lamentou que, “quatro anos depois, as pessoas ainda insistem em falar de uma candidatura da morna, como se tivesse sido uma coisa abstracta”, reforçando que a candidatura foi construída com base na cientificidade e na capacidade técnica do IPC, na capacidade da consultoria e validada pela UNESCO, uma agência das Nações Unidas.
“Quando trabalhei a morna, não o fiz para ser património da humanidade, mas para ser respeitada em qualquer parte do mundo. Não precisava ser património do Estado, porque o próprio cidadão cabo-verdiano tinha por direito defender a sua morna”, indicou Paulino Vieira, na entrevista à Lusa.
A morna é geralmente acompanhada por viola, cavaquinho, violino e piano, tem como “instrumento de excelência” o violão, introduzido em Cabo Verde no século XIX.
Vieira afastou-se dos grandes espectáculos em 1996, continuando, no entanto, a criar a sua música que, afirmou, é do mundo e não tem fronteiras.
Cantor, compositor, arranjador e produtor, toca vários instrumentos, tendo-se destacado no piano, guitarra, cavaquinho, percussão e harmónica.
Longe da ribalta, mas não da produção, diz que tem um ‘stock’ de 30 anos de composições que o mundo não conhece. Músicas do mundo e não de um só país e tão pouco apenas de Cabo Verde, pois, como gosta de sublinhar, Paulino era dos cabo-verdianos, mas também dos angolanos e dos moçambicanos e de todos que o procuraram para partilhar um pouco da sua genialidade.
Recentemente, deu um espectáculo no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, em que mostrou a versatilidade que o caracteriza, num ‘show’ que apresentou como “um simples ensaio”, dedicado aos trabalhadores, àqueles que, ainda que na sombra, são os que fazem a máquina funcionar.