Residente em Portugal, Sara Alhinho disse que este EP é um trabalho que dedica aos seus pais. Formado por quatro temas, dos quais três já estão disponíveis nas plataformas digitais, o EP é uma forma que a artista encontrou para homenagear os pais, em vida. “O nome do EP não vou revelar ainda, é surpresa. Quero fazer uma apresentação aqui, mas ainda não tenho data”.
Sara Alhinho nasceu em Portugal, mas cresceu em Cabo Verde. Aos 8 anos, participou no álbum “Menino das Ilhas” com o êxito “Sara Sarita”, música que ficou na memória das pessoas da sua geração. “Menino das Ilhas”, um disco com músicas para crianças, foi produzido pela mãe Teté Alhinho e Paulino Vieira.
“É algo bem estranho, era tímida e gostava de cantar. Antes de gravar ‘Sara Sarita’ tinha participado em vários festivais locais de pequenos cantores e depois tive o convite da minha mãe para cantar este tema do Tó Tavares. Foi bom, mas ao mesmo tempo foi um bocado estranho. As pessoas chamavam-me de `Sara Sarita`, então lidar com isso foi um bocadinho difícil, porque era muito pequenininha e não estava à espera desse sucesso”, conta.
Depois disso fez parte do grupo “Meia Culpa”, juntamente com Kady, Alberto Koenig, Enrique Alhinho (irmão), Danae Estrela. “Tínhamos esse grupo, porque íamos várias vezes ver os concertos com os elementos do grupo Sementeira. Decidimos formar esse grupo e cantávamos muito nos eventos. Éramos todos novinhos, mais tarde deixamos o grupo e cada um seguiu a sua carreira a solo (aqueles que seguiram a música) porque nem todos seguiram a carreira musical”.
Com a sua mãe gravou o disco “Gerassons”, em 2008. Disco que valeu uma digressão pelos palcos de Espanha, Portugal e Itália, como convidadas do Festival Sete Sóis Sete Luas 2009.
“Antes de gravar o meu CD a solo, gravei um álbum com a minha mãe. Com isso fizemos uma digressão pela Europa, depois tinha aquela rebeldia de que tinha que fazer algo meu, tinha aquela coisa de que não queria ser associada à minha mãe, essa coisa da juventude, então fui gravar o meu álbum”, conta.
Neste momento, a cantora conta com dois álbuns no mercado: “Mosaico” e “Ton di Petu”. Em 2013, aos 28 anos, lança o seu primeiro álbum a solo “Mosaico” com participação da mãe, Teté Alhinho e os Meia Culpa – seu irmão, Enrique e Kady Araújo. “Mosaico” foi produzido no México (terra natal do pai).
No ano 2018, lança “Ton di Petu”, álbum que recorreu ao Crowdfunding para financiar os custos de produção.
Formada em Comércio Externo e Marketing, nas Canárias, Sara Alhinho conta que não sabe porque escolheu este curso, mas considera que foi uma boa decisão. “A minha formação superior influencia-me na forma estratégica de levar a minha carreira. Eu era ingénua, posso mesmo dizer desorganizada, e esse curso ajudou-me a ser organizada. Não tenho uma produtora e faço absolutamente tudo sozinha até este momento. É assim que a minha formação me ajudou no foco, na organização e a ter um plano mais estratégico de fazer as coisas acontecer, então foi muito bom”.
Portugal
A cantora reside em Portugal há cinco anos, para ter mais oportunidade na sua carreira artística. “Neste momento temos muitos artistas cabo-verdianos a viver lá. Cabo Verde tem pouca escala, o mercado é pequeno. A minha música é mais eclética e não faço a música comercial cabo-verdiana, então o mercado português é um bocadinho mais europeu, onde consomem mais”.
“Portugal é uma plataforma excelente, porque primeiro fica na Europa, pois é mais barato fazeres a tua aposta. Segundo, estás num ambiente musical muito especial, encontras artistas de todas as partes do mundo. E Portugal hoje em dia tem muita diversidade com encontro de culturas diferentes e uma forma muito espontânea e fantástica. Nós artistas bebemos disso e isso nos enriquece e nos permite criar e também precisamos de contactos para nos fazer crescer e fazer a nossa música ficar viva”, revela.
AME
Esta é a segunda vez que Sara Alhinho participa no AME que, para além de actuar, terá contactos com os delegados e outros agentes musicais. “Durante o AME vou aproveitar tudo aquilo que está a nosso favor. A ideia é fazer contactos, network e apresentar o trabalho e esperar que alguém vá gostar”.
Projectos
Sara Alhinho disse ao Expresso das Ilhas que ainda tem muitas coisas novas para sair, o “EP é um projecto relâmpago, depois vou pegar em outros projectos que tenho na gaveta”.
“Como artista almejo que a minha música chegue ao maior número de pessoas. Acho que isso é algo que todos nós gostaríamos. Costumo dizer que sou um pássaro sem fronteira, acho que todo o cabo-verdiano é assim de certa forma. Somos um povo muito misturado, temos uma identidade muito forte, somos do mundo e gostamos de estar no mundo”, sublinha.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1115 de 12 de Abril de 2023.