Investigadores cabo-verdianos lideram projecto sobre lusófonos no Luxemburgo

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,31 mai 2023 11:47

Os investigadores cabo-verdianos Bernardino Tavares e Aleida Vieira estão a liderar um projecto sociolinguístico-etnográfico que investiga as interacções sociais, linguísticas e laborais, assim como os encontros de migrantes lusófonos no Luxemburgo, como um país multilingue.

O projecto DisPOSEG (Investigates social, linguistic and labour interactions of Lusophone migrants in Luxembourg, em inglês), abrange diversos grupos de indivíduos que partilham a língua portuguesa, mas não as mesmas posições históricas.

Com doutoramento em Sociolinguística, Bernardino Tavares, natural de Tarrafal, investigador principal do projecto, explicou que há muitos lusófonos que chegam ao Luxemburgo, e que mesmo com uma formação académica “elevada”, por causa da língua, acabam por concentrar-se nos tipos de trabalho que “não são comensuráveis” com as suas formações, trazendo uma certa estratificação social.

“É um projecto sobre migração lusófona no Luxemburgo, onde tentamos perceber as interacções de todos os lusófonos e os países de língua oficial portuguesa no contexto de trabalho aqui no Luxemburgo. O nosso objectivo é tentar compreender como é que a sua história comum pode afectar de uma forma positiva ou menos positiva na sua interacção de trabalho”, explicou o investigador principal do DisPOSEG.

Para Bernardino Tavares, que partiu de Cabo Verde para continuar os estudos na Universidade de Coimbra, em Portugal, e depois candidatar-se a um projecto sobre migração cabo-verdiana no Luxemburgo, onde fez o doutoramento em 2018, “Luxemburgo é um bom país, tem boas condições e muitas opções de trabalho e as pessoas lutam”.

Entretanto, mostra-se ciente de que também há desafios em relação à língua, já que as línguas oficiais administrativas nesse país europeu são luxemburguesa, francesa e alemã. Às vezes, os migrantes lusófonos acabamos por ter “algumas dificuldades”, por causa disso.

Por sua vez, a investigadora Aleida Vieira, que nasceu em Cabo Verde e foi para Portugal ainda criança, antes de ir para o Luxemburgo, onde fez o mestrado em Engenharia de Mediação de Conflito, refere que  por causa dessa diversidade linguística ela trabalha com os lusófonos e portugueses, tentando sempre usar a língua com a qual a pessoa está mais à vontade.

“É um projecto em andamento, começou em 2021 e tem a duração de três anos, estamos na fase de análise de todos os dados recolhidos, mas até ao momento percebemos que há quase que uma reprodução da história colonial que temos entre Portugal e ex-colónias, mas também por ser um terceiro espaço, observamos uma diferença no sentido em que tem uma reversão desta hierarquia, ou seja, por exemplo, através da língua, um cabo-verdiano pode ser chefe de um português”, explicou.

Financiado pelo Fundo Nacional de Pesquisa do Luxemburgo, o DisPOSEG quer fornecer um relato detalhado e aprofundado das relações dos migrantes lusófonos (originários de Cabo Verde, Portugal, Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique) no Luxemburgo, moldadas (ou não) pelo colonialismo, pela língua e pelos regimes de migração.

O projecto DisPOSEG visa uma compreensão acrescida da mobilidade e da migração, explorando (re)arranjos e solidariedades estre estes migrantes num terceiro espaço, o Luxemburgo, para além da velha dicotomia de países (ex-)colonizadores e países colonizados.

De acordo com os investigadores, actualmente, a estatística no Luxemburgo é um bocadinho complexa, porque não leva em conta a questão da dupla nacionalidade. A mesma aponta para quase 100 mil portugueses, e apenas pouco mais de 2000 cabo-verdianos, quando na realidade, se se for ver as pessoas que têm dupla nacionalidade, só os cabo-verdianos podem chegar a mais de 15 mil.

No âmbito da visita de Estado do Presidente da República ao Luxemburgo, os investigadores entregaram um documento onde expõem os objectivos e a importância do DisPOSEG, e esperam que resulte no reforço da cooperação académica entre a Universidade do Luxemburgo (Uni.lu) e a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,31 mai 2023 11:47

Editado porSara Almeida  em  31 mai 2023 16:26

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