Apesar do aumento de vendas as livrarias ainda enfrentam constrangimentos

PorDulcina Mendes,19 mai 2024 7:24

Os livreiros criticam o facto de existir uma certa concorrência do Estado para com as livrarias privadas e apelam para a necessidade de uma política virada para esta área. Entretanto reconhecem que o mercado livreiro tem verificado aumento de venda e maior procura pelos livros clássicos, contemporâneos, técnicos e infanto-juvenis.

Segundo Daniel Brito, da Livraria Semente, em São Vicente, os maiores constrangimentos no mercado livreiro são, desde logo, a nível organizacional. “Ainda não existe uma entidade/associação que reúna os editores e livreiros privados nacionais.

“Há desarticulação entre as políticas públicas para o livro e as livrarias, os transportes, uma fiscalidade excessiva para as micro e pequenas empresas livreiras e a pequena dimensão do mercado livreiro”, aponta.

Daniel Brito afirma que a Biblioteca Nacional passou a concorrer com os privados na importação de livros que são vendidos nas suas livrarias na Praia e no Mindelo e “mais recentemente em feiras, com preços que as livrarias privadas não podem acompanhar, pondo em risco a viabilidade das mesmas”.

Mário Silva, Administrador da Livraria Pedro Cardoso, por seu lado, disse que as empresas privadas enfrentam vários constrangimentos no mercado cabo-verdiano. “Mas, no nosso caso, somos uma empresa cultural. E as empresas culturais ainda não estão na agenda do governo, porque o sector da cultura em Cabo Verde é informal, este é o primeiro problema. O segundo problema é que o nosso grande concorrente é o Estado”.

Já a presidente do Instituto da Biblioteca Nacional, Matilde Santos, sublinhou que não são concorrentes das livrarias privadas, mas sim trabalham em parceria. “Nós acreditamos que através de um trabalho de parceria o mercado livreiro sai a ganhar”.

“E esperamos que esse mercado cresça cada vez mais e com novas dinâmicas. Nós vamos trabalhando em parceria com as livrarias, com as editoras que já existem aqui na Cidade da Praia e em outros pontos do país”, realça.

Matilde Santos disse que se constata que de ano para ano o mercado livreiro tem adquirido maior dinâmica e também aumentado o número de vendas de livros de uma forma geral.

Em relação à leitura destacou que há uma dinâmica de participação activa na Biblioteca. “Nós temos a sala de leitura 1 e a sala de leitura 2. Na sala de leitura 1, o número de utentes tem aumentado consideravelmente. Desde o período da pandemia e pós-pandemia, os números foram aumentando. E anualmente nós temos vindo a verificar cada vez maior adesão de pessoas na frequência da própria sala.

Sobre a livraria online, afirmou que tem funcionado bem, sobretudo a nível nacional por se tratar de um novo serviço. “Há poucos meses que inauguramos a livraria online que trouxe uma mais-valia para o mercado livreiro, porque em qualquer ponto do país as pessoas podem comprar os seus livros”.

Em relação à reedição dos clássicos, Matilde Santos afirmou que estão com uma aposta muito assente nos livros que se encontram esgotados no mercado livreiro, sobretudo os considerados autores clássicos da literatura cabo-verdiana e com especial destaque para aqueles recomendados pelo ensino e que também fazem parte do Plano Nacional de Leitura.

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Matilde Santos apontou que os preços desses livros são acessíveis à maioria das famílias e enfatizou que a Biblioteca Nacional apostado em facilitar a aquisição dessas obras nas feiras. “Essas obras ainda têm um preço mais baixo do que o habitual, que são 500 escudos, mas nas feiras para facilitar a todos os cabo-verdianos ou residentes aqui no país o acesso a essas obras de suma relevância para a nossa cultura e também para o próprio ensino”.

Livraria Pedro Cardoso

Conforme Mário Silva a venda dos livros tem sido normal na Livraria Pedro Cardoso, com destaque especial para os técnicos. “Nós apostamos muito na venda de livros técnicos que vão desde Gestão, Economia, Direito e Matemática”.

Na livraria Pedro Cardoso, à semelhança das outras, a venda dos livros ainda é presencial. “A venda dos livros é presencial. Ainda não chegamos à venda online, porque a procura mesmo presencial é reduzida e o online custa caro”.

A livraria, conforme disse está a funcionar como um Centro Cultural da Cidade. “Há pessoas que vão lá, fotografam páginas de livros, tudo isso aceitamos com normalidade. Há estudantes que vão lá estudar. Fazemos debates, conferências, projeções de filmes. E nós somos a única editora-livraria, que é uma sociedade comercial. Contas auditadas. Pagamos impostos e segurança social. Como vê somos únicos e sofremos na pele por causa disso”, refere, para acrescentar que a Pedro Cardoso, que no mês de Julho completa dez anos de existência, é a livraria com mais títulos publicados em Cabo Verde”.

Livraria Semente

Por seu lado, Daniel Brito frisou que a venda dos livros na Livraria Semente vem crescendo de forma sustentada, mantendo a tendência dos últimos anos. “A venda faz-se essencialmente na livraria física – presencial, o que permite um atendimento informado, mas também através das redes sociais Facebook e Instagram”.

“Vendemos para todas as ilhas, em especial para a Cidade da Praia, ilhas do Sal e de Santo Antão e enviamos os livros pelos Correios com uma tarifa e-commerce, mais económica”, explica.

Livraria Nhô Eugénio

Já para Ângela de Carvalho, funcionária da Livraria Nhô Eugénio, na Praia, a venda de livros neste momento está calma. “Os livros que mais vendemos são de autores cabo-verdianos. A venda dos livros depende da época: há época em que vendemos mais e outras que vendemos menos”.

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Nesta livraria, conforme Ângela de Carvalho, os constrangimentos prendem-se com o preço dos livros, que muitas pessoas reclamam que são caros. “O preço que aplicamos nos livros é derivado do transporte que pagamos para os termos cá. Acho que deveria haver uma forma que fizesse com que o preço dos livros não fosse tão elevado, porque o livro é um investimento para o conhecimento. O livro é útil, em todos os aspectos”.

Na Livraria Nhô Eugénio disse que a compra online é necessária, mas ainda não dispõe deste serviço. “Ainda não temos serviço de venda online, temos mais venda presencial. O serviço de entrega também ainda não temos, mas já enviamos livros para outros sítios através dos Correios de Cabo Verde. As pessoas muitas vezes compram aqui e enviam para outros países, para os seus familiares e amigos que precisam de um certo tipo de livro”.

“Além da venda dos livros, temos o serviço de cafetaria e de pequeno almoço. Também realizamos actividades como tertúlias, lançamento de livros, exposições de quadros e venda de peças artesanais. Há quatro/cinco anos que realizamos serenata na livraria”, realça. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1172 de 15 de Maio de 2024.

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Autoria:Dulcina Mendes,19 mai 2024 7:24

Editado porSara Almeida  em  20 mai 2024 10:44

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