O festival celebra os 500 anos de Luís Vaz de Camões e reúne poetas e escritores do Brasil, Portugal e dos PALOP. O tema desta edição é “Camões 500 Anos (1524-2024): Uma Nova Leitura da Cidadania da Língua – Dez Ideias para um Futuro Descolonizado”.
No primeiro dia do festival, destacam-se o encontro de organizadores de festas e festivais literários na Paraíba, a Feira de Livros e a exposição “O Rosto de Camões”, de João Francisco Vilhena, que serão inauguradas a partir da abertura do evento.
No dia 29, a programação inclui painéis temáticos que fomentam debates literários e culturais.
Vera Duarte participará, na sexta-feira, 29, no painel “Pluralidade e Diversidade”, cujo tema será “Educação Como Pilar do Futuro Descolonizado”, ao lado de Neide Medeiros (PB-Brasil) e Maria Valéria Rezende (SP-Brasil).
Em entrevista ao Expresso das Ilhas, Vera Duarte afirmou esperar que deste festival surjam ideias e um clamor capaz de ecoar a mensagem: “Racismo e sexismo nunca mais”, acrescentando: “Este é o foco principal da minha intervenção”.
“Querem que daqui saiam dez ideias para descolonizar o futuro. Trago, da minha leitura de Luís Vaz de Camões, muitas coisas espantosas que ele escreveu de forma extraordinária e que podem ajudar a transformar o mundo”, sublinhou.
A escritora destacou ainda que irá abordar duas ideias centrais defendidas por Camões, que considera essenciais para continuar a transformação do mundo. “Camões escreveu Endechas a Bárbara Escrava, um poema no qual declara amor a uma mulher negra e, além disso, escrava – num período em que o ideal de beleza era a mulher branca e loura, como Laura, a sua musa canonizada.
Vera Duarte realça que Camões valoriza a beleza e a formosura da mulher negra, afirmando: “Isto é uma prova extraordinária de antirracismo. Quero propor que esta mensagem seja uma das nossas bandeiras e que dela resulte um compromisso deste encontro.”
A Participação de Cabo Verde
Para Vera Duarte, a participação de Cabo Verde neste evento tem grande significado para os escritores e poetas cabo-verdianos. “Cabo Verde estar representado dá-nos uma enorme satisfação, pois demonstra um crescente interesse pela literatura cabo-verdiana e pela integração desta num espaço partilhado com Portugal, Brasil e os outros países de língua oficial portuguesa.”
Novo Livro
A escritora revelou ter recentemente lançado uma obra infantojuvenil intitulada “Blimundo”, em celebração do centenário de Amílcar Cabral. “Ainda não tive oportunidade de fazer o lançamento oficial, mas já disponibilizei exemplares para a Associação Crianças Desfavorecidas (ACRIDES).”
O livro encontra-se à venda na Livraria Nhô Eugénio, na cidade da Praia, e estará também na Feira do Livro da Biblioteca Nacional, a decorrer no sábado, dia 29 deste mês.
Vera Duarte mencionou ainda que está a concluir mais dois contos infantojuvenis.
Percurso Literário
Vera Duarte estreou-se na literatura em 1993, com o livro de poesia Amanhã Amadrugada, ao qual se seguiram O Arquipélago da Paixão (2001), Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança (2005), Exercícios Poéticos (2010) e Risos e Lágrimas (2018).
É autora de três romances: A Candidata (2004), galardoado com o Prémio Sonangol de Literatura, Matriarca – Uma História de Mestiçagens (2017) e A Vénus Crioula (2021).
Reconhecida activista dos direitos humanos, Vera Duarte recebeu, em 1995, o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa. Foi presidente da Academia Cabo-verdiana de Letras e é membro da Academia de Ciências de Lisboa. Entre outras distinções, foi agraciada, em 2001, com o Prix Tchicaya U Tam’si de Poesia Africana e, em 2021, com o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1200 de 27 de Novembro de 2024.