A mostra reúne obras de artistas provenientes de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, Portugal, São Tomé e Príncipe, Brasil, Mali, África do Sul, Nigéria e República Democrática do Congo.
A exposição estará patente em dois polos expositivos complementares: o Museu da Água – Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos e o Centro Cultural de Cabo Verde, ambos em Lisboa.
Com direção artística da galeria This is Not A White Cube e curadoria de Graça Rodrigues, Sónia Ribeiro e Ricardo Barbosa Vicente, a mostra reúne obras de 26 artistas oriundos de diversas geografias africanas e da diáspora.
Segundo uma nota da Embaixada de Cabo Verde em Portugal, a exposição integra o programa VIP da feira ARCO Lisboa, que decorrerá de 29 de Maio a 1 de Junho, na Cordoaria Nacional.
“Beyond Boundaries propõe uma reflexão visual sobre o conceito filosófico de ‘terceiro espaço’, entendido aqui como um território intersticial onde a arte contemporânea africana se afirma como acto de insurgência estética, edificante de uma contra-narrativa visual face às fronteiras herdadas, e como potência de reconfiguração dos horizontes sensíveis do mundo”, cita a nota.
A mesma fonte destaca que a mostra reúne uma constelação notável de artistas, cujas práticas diversas e singulares testemunham a vitalidade, a complexidade e o vigor de um continente em permanente reinvenção de si.
“Desenhada em torno de três eixos curatoriais fundamentais, a materialidade como discurso, a figuração como resistência e a memória como gesto político, a exposição propõe uma travessia visual e sensorial que desafia a rigidez do pensamento hegemónico inveterado e evoca a memória como gesto insurgente”, explica.
A mesma fonte relata “Beyond Boundaries – A Collective Odyssey” assume também uma dimensão dialógica com o património lisboeta ligado ao abastecimento de água, promovendo não apenas a descoberta de obras e artistas, mas também uma revalorização crítica da memória industrial e social da cidade.
Na mesma nota, a curadora Graça Rodrigues reforça que a exposição propõe uma travessia visual e sensorial que desloca o centro para as margens, subvertendo cânones e promovendo uma reinvenção crítica da memória colectiva.
A exposição, conforme indica a curadora, é uma odisseia colectiva, não apenas no sentido literal da travessia partilhada, mas enquanto transferência do centro para a periferia, do cânone para o gesto subversivo, da memória imposta para a reinvenção crítica do arquivo.
Cada obra exposta, segundo Rodrigues, funciona como fragmento de um palimpsesto maior, em que a matéria têxtil, pictórica, sonora e visual é convocada não apenas como suporte, mas como testemunho.
“A exposição estrutura-se, pois, em torno de três eixos curatoriais fundamentais: amaterialidade como discurso, a figuração como resistência e a memória como gesto político”, afirma.
Rodrigues destaca que a materialidade assume um papel central, desafiando binarismos entre arte e artesanato, técnica e conceito, objecto e pensamento. A matéria, diz, carrega em si tanto a violência da história quanto a possibilidade de sua reconfiguração.
“A reutilização e a reciclagem não são meramente processos técnicos, mas estratégias de subversão simbólica e de emancipação estética e narrativa”, frisa.
A figuração surge, por sua vez, como gesto de restituição do corpo, não mais como objecto de exotização e fetichização, mas como sujeito pleno, portador de dignidade e complexidade.
“Assiste-se a uma reapropriação crítica da imagem, onde o corpo negro deixa de ser projecção do olhar colonial para se tornar protagonista de uma narrativa íntima, política, cultural e espiritual”, explica.
Já a memória diz atravessa toda a exposição como campo vivo de disputa e reinterpretação. Para Rodrigues, trata-se de reinscrever cosmologias silenciadas, não como gesto nostálgico, mas como ato de reativação crítica.
“Os padrões têxteis tornam-se insígnias de pertença, a corporalidade inscreve-se como arquivo vivo e a prática artística emerge como ferramenta de reinscrição histórica”, frisa.
A curadora conclui afirmando que a produção artística contemporânea africana patente na exposição se afirma como espaço de enunciação autónoma, cura simbólica e restituição epistemológica, reivindicando o direito de imaginar, narrar e representar um mundo por vir e um tempo por escrever.