Estas declarações foram feitas pelo arqueólogo à comunicação social, durante as celebrações do 16.º aniversário da Cidade Velha como Património Mundial, que culminaram com uma conferência intitulada “50 Anos de Independência: Um olhar sobre a Cidade Velha – da recuperação à busca pelo desenvolvimento sustentável”.
“Foi a maior surpresa que já tive em termos profissionais ao longo destes anos. Porque tínhamos essa incerteza, ou seja, a única coisa que existia deste enorme edifício público da Cidade Velha era apenas a torre sineira, mas revelou-se com vários metros de altura, portanto, com uma dimensão absolutamente inusitada, inesperada”, afirmou André Teixeira.
Sobre os próximos passos do projecto, o arqueólogo referiu que esta descoberta não foi fruto de uma investigação pura, mas sim do contexto de uma obra de reabilitação urbana promovida pelo IPC, devido à importância dos vestígios encontrados, está em discussão a musealização do local.
“Seria uma pena que não fosse valorizado, que não fosse divulgado e que não servisse como uma âncora para o desenvolvimento, precisamente aquilo de que estamos a falar aqui hoje”, acrescentou.
O objectivo é transformar o espaço num núcleo museológico, um ponto de interesse que acolha tanto a comunidade local como turistas, contribuindo para que “as pessoas tenham mais para descobrir na cidade, fiquem mais tempo na Cidade Velha, e isso também traga benefícios, claramente, para a cidade”.
No que respeita à importância histórica do Complexo da Misericórdia, André Teixeira destacou a sua monumentalidade como sendo “surpreendente” e o seu significado histórico “imenso”.
A Igreja da Misericórdia teve um papel igualmente crucial, servindo como sé da cidade durante cerca de dois séculos e mantendo uma função social e assistencial importante.
Relativamente ao andamento do projecto arqueológico, André Teixeira adiantou que ainda é prematuro definir uma data para a sua conclusão.
Por sua vez, a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), Ana Samira Baessa, destacou que este projecto de escavação do Complexo da Misericórdia acontece no âmbito da requalificação urbana e ambiental da Cidade Velha — um dos projectos mais avançados e que já se encontra em fase de contratualização.
Ana Samira garantiu que o projecto contempla a musealização desta zona, com a ligação entre dois dos monumentos de maior relevância no contexto do património religioso da Cidade Velha.
“Estou a falar do Complexo da Misericórdia em termos de acessibilidade, iluminação, paisagismo e da definição do novo circuito de visita. E no Complexo da Misericórdia, as ruínas já estão descobertas; vai-se agora fazer um trabalho de conservação e de musealização”, afirmou.
Quanto ao orçamento para a concretização do projecto, a presidente do IPC disse que este surge em parceria com o Banco Mundial e com financiamento do Governo de Cabo Verde, através do Plano Operacional do Turismo (POT), no valor superior a 300 mil contos, sendo que a intervenção no Complexo da Misericórdia rondará os 50 a 60 mil contos.