A obra será apresentada em duas cidades holandesas: esta quarta-feira, 8 de Outubro, no Theater Kikker, em Utrecht, e no dia 11 de Outubro, no Frascati Theatre, em Amesterdão.
Segundo Djam Neguin, a sua presença no Afrovibes marca não apenas a circulação internacional de uma das obras mais ousadas da nova cena cabo-verdiana, mas também um gesto simbólico de afirmação artística e política, inserindo Cabo Verde no mapa das grandes conversas contemporâneas sobre memória, herança cultural e futuros africanos.
Djam Neguin explica que o espectáculo parte da figura lendária de “Na-Ná”, um homem que, segundo narrativas orais, aparecia nas festas populares de Santiago munido de um simples ferrinho.
“Ao lado de outro músico mítico, Funa, cujo género não se confirma, teria dado forma aos primeiros compassos do funaná, hoje uma das danças mais emblemáticas de Cabo Verde. Mas a história de Na-Ná é nebulosa, marcada pela ausência de registos documentais e pela ambiguidade entre mito e realidade”, relata.
É por causa dessa lacuna histórica que Djam Neguin constrói “Na-Ná: uma ficção performativa que transforma a figura mítica em corpo presente, questionando o modo como a memória se constrói, se distorce e se reinventa”.
Djam Neguin sublinha que no palco, o intérprete atravessa gestos que evocam a fisicalidade da dança tradicional, mas contaminados por camadas contemporâneas: luzes pulsantes, teatralidade, e uma estética futurista querer que remete para a possibilidade de um “futuro africano” reinventado a partir da memória e pensamento de um corpo que vai além do humano.
“Mais do que reconstituir um passado, ´Na-Ná´ cria um território de fricção. O corpo surge como espaço de disputa simbólica: de resistência, de erotismo, de ritual, mas também de crítica às formas como a história tem sido narrada e filtrada por estruturas coloniais e patriarcais”, acrescenta.
Djam Neguin esclarece que “Na-Ná” nasceu em Cabo Verde e logo despertou interesse internacional pela forma singular como articula tradição e experimentação. Desde então, disse que o espectáculo tem sido apresentado em diversos contextos de dança e artes performativas, colocando-o em diálogo com outros criadores africanos e da diáspora que exploram linguagens híbridas.
“O trabalho inscreve-se num percurso mais amplo do artista, que ao longo da última década tem construído uma trajectória marcada por cruzamentos entre dança contemporânea, música urbana, teatro e performance visual”, conta.
A participação de Djam Neguin no Afrovibes não se limita ao palco. O artista integra também a sessão “Epistemic and creative situatedness in performance/arts making”, nesta quarta-feira, na Ruyszaal da Universiteitsbibliotheek, em Amesterdão.