Foi criada este domingo, em S.Vicente, a Federação Cabo-verdiana de Xadrez. Como actividade paralela à Assembleia Geral Constitutiva, Carlos Dias ministrou um curso de árbitros que contou com a participação de cerca de 20 formandos. Desta actividade inédita em Cabo Verde, Carlos Dias teceu considerações importantes que levamos ao conhecimento dos nossos leitores. Carlos Dias é um dos melhores árbitros da actualidade, tendo já arbitrado jogos de 13 campeões do mundo.
Expresso das Ilhas - Ministrou há poucos dias o primeiro curso de árbitro realizado em Cabo Verde. Quantas pessoas participaram na formação e como foi o aproveitamento?
Carlos Dias - Participaram cerca de 20 formandos, e o aproveitamento, tendo em conta ter sido a primeira abordagem com as regras, foi positivo, no que ao interesse demonstrado diz respeito.
Em que consistiu esta formação de três dias?
Esta formação incidiu prioritariamente nas regras do jogo de xadrez, embora tenhamos abordado outros temas. Abriu portas a um futuro seminário de árbitros FIDE que se poderá realizar no próximo ano.
Que qualidades deve ter um aspirante a árbitro de xadrez?
Várias. Destaco a discrição, sobriedade e essencialmente a calma necessária para julgar qualquer situação que possa acontecer. Importante, senão mesmo capital, a necessidade de ter um profundo conhecimento das regras e sua correcta interpretação. A incompetência gera, normalmente, autoritarismo.
Encontrou essas qualidades em algum dos formandos?
No que à sobriedade e calma em praticamente todos eles. O conhecimento das regras virá com o tempo, com o estudo, e essencialmente com a prática.
Porque é que é importante Cabo Verde poder contar com árbitros de xadrez?
Para a realização e consequente homologação na FIDE as provas devem contar com árbitros licenciados. Para tal deverão existir árbitros no quadro da Federação Cabo-verdiana de Xadrez.
Como surge o convite para ministrar o referido curso?
Da parte do actual e primeiro Presidente. Homem de visão e conhecedor da modalidade que pratica há mais de 40 anos, entendeu, e bem, que a capacitação dos agentes desportivos é importante. Quer sejam árbitros quer sejam monitores.
Representou na Assembleia o Presidente da Confederação Africana de Xadrez, do qual leu uma mensagem. Qual foi o teor da mensagem e o que significa como estímulo?
Em traços gerais a mensagem do Presidente da Confederação Africana de Xadrez, deixou um compromisso de apoio da CAX [Confederação Africana de Xadrez] à novel Federação Cabo Verdiana. Felicitou a sua fundação e deixou também uma mensagem de esperança no que ao papel importante que o xadrez de Cabo Verde pode ter no Mundo e na África.
Que novos horizontes e que portas se abrem ao xadrez cabo-verdiano depois da constituição da Federação Cabo-verdiana de Xadrez?
Diversos. O facto de a breve trecho vir a fazer parte da grande família mundial do xadrez é já de si uma porta grande que se abre. Será, claro, necessário muito trabalho e perseverança.
Com que apoios matérias e didácticos poderá a FCX contar nos próximos tempos?
Como nova Federação penso que poderá contar com vários apoios, que a seu tempo, serão “negociados” com quem de direito.
Falando de si pessoalmente. Sabemos que tem um currículo invejável. Podia referir aos momentos altos da sua carreira?
Vários. Para falar de alguns terei que salientar a Taça do Mundo (Bakú 2015), o Torneio do Qatar (Doha 2015), O Campeonato Africano (Maputo 2011), World Mind Games (Pequim 2013), três Campeonatos Mundiais de Jovens (1996, 2005, 2014), Torneio de Candidatos (Londres 2013) e outros que poderia indicar. Foram centenas ao longo de 33 anos de carreira. Sem esquecer o momento em que atingi o estatuto de árbitro “A”, e sem esquecer também a entrada par o grupo restrito de “Prelector da FIDE” e a entrada para a Comissão de Árbitros da FIDE.
Com que impressão leva de São Vicente e dos praticantes cabo-verdianos?
A melhor impressão. Fui extraordinariamente bem recebido. Gente calorosa que sabe receber. Quanto ao nível escaquístico, pese embora haver muito caminho a fazer, é bom. Pessoal interessado e motivado. O que será muito importante e será seguramente uma mais valia no trajecto que agora iniciam, e para o qual desejo as maiores venturas, estando disponível para dar o meu modesto contributo sempre que acharem necessário.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 752 de 20 de Abril de 2016.