II Torneio Internacional de Xadrez da Boa Vista: MI Rui Dâmaso vs Éder Pereira Gambito da Dama recusado

PorExpresso das Ilhas,14 ago 2016 6:00

Enquanto subia as escadas da CAC (Centro de Artes e Cultura) rumo ao 3º piso, local onde decorreram as partidas entre os cinco xadrezistas cabo-verdianos e os três mestres lusos convidados, dei por mim a rever mentalmente como um trailer, uma série de imagens do xadrez nacional, desde a minha primeira participação num torneio que se realizou no Hotel Porto Grande em São Vicente, em 2004, até esse dia. Porém, nesse momento, o que me causava um certo frenesim, era o facto de estar prestes a enfrentar pela segunda vez, num intervalo de um ano, o Mestre Internacional Rui Dâmaso, o mais conceituado MI português e conhecido mundialmente por «Bramir a Excalibur» destroçando em poucos lances, mestres e Grandes mestres de renome, com seu estilo de jogo criativo e baseado em sacrifícios de qualidade, deixando seus adversários à merce de ataques fulminantes ao Rei.

Hoje, olhando para trás e vendo todo o percurso que alcançamos, sinto-me satisfeito e realizado por ter contribuído para a dinamização do xadrez no nosso país, de fazer parte da elite dos xadrezistas nacionais e da honra imensurável de representar a nossa bandeira. Eu, assim como os meus compatriotas do jogo dos reis, temos a sorte trabalhada de estar vivenciando e sendo protagonistas de momentos e marcos históricos do xadrez cabo-verdiano quase sempre que damos vida a uma atividade, um projeto ou realizando um torneio. Dois desses momentos ficaram mesmo registados durante o torneio supracitado, quando, no dia 30 de Junho de 2016, na 6ª ronda, defrontaram-se pela 1ª vez dois jogadores cabo-verdianos com elo FIDE: Sidney Spínola (Sal - 1704) e Carlos Mões (SV - 1383). O outro, foi que após esse torneio, Cabo Verde passou a contar com mais 3 jogadores com rating internacional, somando 6 no total: Carlos Mões (São Vicente), Francisco Carapinha (São Vicente), Sidney Spínola (Sal), Arlindo Rodrigues (Santo Antão), António Monteiro (Praia) e eu, Éder Pereira (São Vicente).

Todas essas conquistas foram frutos de trabalho árduo e consistente, acariciados por uma paixão indomável pela camisola, suplantando todas as tentativas de desistências e frustrações que encontrámos pelo caminho.

Após ter subido as longas escadas e já acomodado confortavelmente na cadeira à espera do meu oponente sob um ar condicionado gélido de 19 graus, eis que surge com um ar descontraído, o mestre Rui Dâmaso, acompanhado como sempre da sua namorada brasileira, a simpática Eunice. Preenchida a folha de anotações e depois de termos ajustado as peças no tabuleiro, apertamos as mãos em sinal de fair play e após anúncio do árbitro, acionei o relógio pondo-o a contar para o meu adversário. Iniciou-se a partida com 30 minutos de atraso, eram 21h:30 e as brancas a jogar!

 Dâmaso demorou uns 5 segundos antes de fazer o 1º lance. Passou a mão pelo cabelo e jogou 1.d4. Não foi surpresa este lance, já era habitual por parte do mestre iniciar a partida com o peão da Dama. Outros lances esperados, eram 1.Cf3 e 1. e4. Aliás, a minha pobre preparação para este duelo foi baseada nesses 3 primeiros lances iniciais. Tinha visto alguns vídeos às pressas no quarto do hotel, da Defesa Caro-Kann e do Gambito Volga, acompanhado de uma rápida olhada de algumas partidas para, pelo menos, ter uma ideia estratégica dos planos gerais, já que não havia tempo para debruçar-me sobre cada uma das possíveis aberturas e analisar com precisão cada variante . Decidi que se ele jogasse 1.e4, responderia com 1...c6 (Defesa Caro-Kann) e caso iniciasse com 1.d4 ou 1.Cf3, tentaria induzi-lo a entrar no Gambito Volga. O meu objetivo em escolher os sistemas referidos consistia em tentar retardar a iniciativa das brancas fazendo um jogo sólido onde poderia eventualmente, no futuro, provocar uma troca de peças, equilibrando as possibilidades.

1...Cf6; 2.Cf3, d5 (aqui tinha que jogar 2...c5 e depois 3...b5, para tentar entrar no Gambito Volga. Mas após despender uns 3 minutos tentando relembrar as ideias estratégicas e uma ou outra variante, tive um mau pressentimento quanto a esta defesa. Nunca a tinha jogado antes em competições. Além disso, o Dâmaso poderia sempre refutá-lo. O Gambito Volga seria talvez  uma surpresa para meu oponente, pois não encontrei na base de dados nenhuma partida que ele tinha jogado contra este sistema, mas talvez seria terra incógnita também para mim. Decidi então não entrar por tais labirintos optando por um sistema na qual me sentia mais seguro. 3.c4, e6; 4.Cc3,c6; 5. Bb5,Cbd7; 6.e3,Be7; 7.Bd3, 0-0; 8. 0-0...

Posição após 8. 0-0...

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do  nº 767 de 10 de Agosto de 2016.

 

 

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Autoria:Expresso das Ilhas,14 ago 2016 6:00

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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