O Gambito Evans

PorExpresso das Ilhas,23 abr 2017 10:04

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O Gambito Evans é uma continuação da Defesa Italiana, em que as brancas sacrificam o peão em b4 para ganharem capacidade de ataque e iniciativa. [1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4].

Este gambito, bastante temido no séc. XIX e que, conjuntamente com o Gambito do Rei, eram as aberturas preferidas dos xadrezistas românticos, tem em 4.b4, atacando o Bispo das pretas, o seu lance-chave. O sacrifício do peão estabelece uma luta agressiva pelo centro. Se as pretas tomarem o Bispo com 4…Bxb4, as brancas respondem com 5.c3, preparando 6.d4 para posteriormente lançarem um ataque a f7.

O “inventor” do Gambito Evans foi o Capitão William Davies Evans, nascido no País de Gales em 1790 e que com apenas 14 anos, quando embarcou pela primeira vez, iniciou a sua vida no mar, tendo chegado a capitão aos 29 anos.

Grande parte da sua paixão pelo xadrez desenvolveu-se em alto mar tendo sido um dos melhores jogadores mundiais. Existe uma versão, não confirmada, que o gambito foi “inventado” por acaso. Conforme essa versão, numa viagem entre Milford Haven e Waterford, Evans tinha decidido avançar o peão para b3, mas um golpe do mar instalou o peão em b4. Depois de analisar a nova posição, Evans decidiu não rectificar o lance e assim nasceu o seu temido gambito.

Em 1826, em Londres, o Capitão Evans teve oportunidade de mostrar o seu gambito na partida com Mac Donnel.

 

Capitão Evans em S.Vicente

Numa troca de correspondência que mantive há uns anos com o Delegado da Irlanda na Federação Internacional de Xadrez por Correspondência (ICCF), o historiador de xadrez Tim Harding, vim a saber que o Capitão William Davies Evans trabalhou e viveu em Cabo Verde entre 1848 e 1852 (aproximadamente).

Segundo Harding, Evans esteve em S. Vicente ao serviço da Peninsular Packet Company ou da Peninsular and Oriental, certamente companhias britânicas que davam suporte aos vapores que passavam pelo Porto Grande.

De acordo com cartas familiares, em 1850 (talvez em Setembro), como não conseguia encontrar emprego em Inglaterra, e já com 60 anos, veio para o Porto Grande.

Em 1851, Evans certamente estava em Cabo Verde, pois existe uma carta que ele escreveu á esposa que tinha ficado em Inglaterra. Nesse ano, em virtude de se encontrar por terras crioulas, não participou no grande torneio internacional de xadrez que se realizou em Londres.

Cartas demonstram que em 1852, um dos seus filhos estaria com ele, mas como o seu estado de saúde não eram bom, regressaram a Inglaterra em Agosto desse ano. É possível que Evans tenha trabalhado cerca de 2 anos como superintendente do Porto Grande.

Grande parte destas informações foram obtidas através das cartas que Evans teve oportunidade de enviar, onde inclusivamente dava conta que uma viagem num barco a vapor entre Cabo Verde e Inglaterra durava cerca de 10 dias.

Evans morreu em Agosto de 1872.

Procurando uma partida em que fosse jogado o gambito Evans, encontrei na internet esta partida que achei que deveria partilhar convosco.

Sempre Viva é um termo poético, traduzido do alemão  Die Immergrüne Partie, que foi aplicado por Steinitz a esta brilhante partida de xadrez jogada por Adolf Anderssen em Berlim, em 1853.

A partida começa com o Gambito Evans e desemboca numa posição jogada com brilho que muitos escritores e comentaristas de xadrez saúdam como não tendo comparação com qualquer outra.

O mestre francês, Alphonse Goetz, em sua obra CINÉMA DES ÉCHECS, escreveu que todos os amantes do xadrez deveriam conhecer esta partida de cor.

Irving Chernev é de opinião que, com início do décimo nono lance, Anderssen executou “Maravilhoso primeiro lance de uma combinação que fez história”.

 Gottschall afirma que “Este lance subtil e aparentemente inofensivo (o décimo nono) é a chave tranquila dos magnificos sacrifícios que se seguem”.

 O Dr. Reuben Fine considera que esta é “Uma concepção magnífica, provavelmente a mais profunda vista em prática sobre o tabuleiro”.

Adolf Anderssen era um dos melhores jogadores de xadrez de sua época e foi considerado por muitos o campeão mundial depois de vencer o Campeonato de Londres de Xadrez de 1851. Jean Dufresne, foi um popular autor de livros de xadrez, era um mestre de menor importância, mas ainda assim, de considerável habilidade xadrezistica.  

 

Adolf Andersen vs Jean Dufresne

“The Evergreen Partie”, Berlin GER (1852), Evans Gambit(C52). 

 

1. e4 e5 2. Nf3 Nc6 3. Bc4 Bc5 4. b4 Bb4 5. c3 Ba5 6. d4 ed47. O-O d3

8. Qb3 Qf6 9. e5 Qg6 10. Re1 Nge7

11. Ba3 b512. Qb5 Rb8 13. Qa4 Bb6

14. Nbd2 Bb7 15. Ne4 Qf5 16. Bd3 Qh5 17. Nf6 gf6 18. ef6 Rg8 19. Rad1 Qf3 20. Re7 Ne721. Qd7 Kd7 22. Bf5 Ke8 23. Bd7 Kf8 24. Be7#

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 803 de 19 de Abril de 2017.

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Autoria:Expresso das Ilhas,23 abr 2017 10:04

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 jul 2021 14:42

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