Aos 21 anos, o jovem basquetebolista internacional cabo-verdiano, Keven Gomes, 2,10 metros, prepara-se para dar o grande salto na equipa principal do Futebol Clube do Porto, depois de uma passagem de dois anos pela equipa B desta invicta cidade.
Chegou a Portugal em 2015 para fazer experiência no FC Porto, com apenas uma época a competir como sénior, e desde cedo despertou o interesse da equipa técnica portista, dada a forma como encara o basquetebol como o grande desafio da sua vida, desde a época que praticava o amadorismo em Cabo Verde.
Antigo jogador do ABC, equipa da cidade da Praia, Keven Gomes considera-se um atleta que trabalha para “aprender aos poucos e apostado” no seu desenvolvimento enquanto basquetebolista.
Admite que a sua vinda para o profissionalismo foi um “autêntico choque”, com o argumento que é totalmente diferente do que se pratica no amadorismo, afirmando mesmo que há que se aprender tudo de novo, porquanto joga e compete com profissionais competentes e capacitados.
“É tudo diferente, porque estamos a jogar a um nível muito mais elevado. Aqui é sempre a aprender. Em Cabo Verde chegas a um ponto em que está tudo estagnado, mas aqui a gente está sempre a evoluir e a aprender coisas novas”, explica Gomes para quem o basquetebol em Cabo Verde, por não ser profissional, está a um nível muito inferior.
A este propósito, não tem dúvidas de que em Cabo Verde há um défice técnico/táctico dos treinadores, que a seu ver carecem de mais e melhores formações, competição e uma nova metodologia, por forma a poder transmitir melhores estratégias aos atletas.
Atesta que o seu desabafo é partilhado pelos colegas cabo-verdianos que actualmente jogam em outras partes do mundo, designadamente nos Estados Unidos da América, em Portugal e em outros países da Europa, dada à falta de qualificação adequada dos técnicos, não obstante a boa vontade em trabalhar a modalidade.
Dedicado, disciplinado e comprometido com a seriedade, afirma, entretanto, que o basquetebol cabo-verdiano, por não ser profissional e por falta de uma estrutura profissional, faz com que muitos dos atletas não levem a competição com mais seriedade.
Para este jovem poste de posição, de ténis 48,5, apesar das suas limitações, o arquipélago de Cabo Verde está dotado de imensos atletas com capacidades para estar a jogar ao nível dos atletas que militam na Liga Portuguesa, face à sua imensa capacidade de desenvolvimento.
A preparar-se para o início da época que se avizinhe na Liga Portuguesa de Basquetebol, Keven e os seus colegas de equipa treinam diariamente, às vezes com sessões bi-diárias e mostra ter interiorizado a máxima deste clube – “jogar sempre para ganhar”. Alega que a equipa está focada em ganhar e que o Porto, como sempre, assume a candidatura ao título.
Indefinição da selecção nacional
Keven Gomes admite que a indefinição quanto à participação da selecção nacional no Torneio da Zona II para o Afrobasket’2017, que culminou com a demissão da equipa federativa cessante, foi fatal para a eliminação de Cabo Verde.
Isto por entender que foi uma situação complicada para os jogadores, porque a equipa nacional esteve na iminência de não se inscrever nesta prova de apuramento e que a decisão e preparação tardia “acabou por afectar e muito a prestação a selecção nacional”.
Dadas estas contrariedades, sublinha, a selecção de Cabo Verde partiu tardiamente e sem planeamento e tempo de treino para o Mali e Senegal, e com falta dos seus principais jogadores e que mesmo assim tinha inteira confiança na equipa que foi disputar a qualificação para a maior montra do basquetebol africano.
“Senti que com aquela equipa, se tivéssemos mais tempo de treinos e mais trabalho, certamente qualificava-se para o Afrobasket. Foi mesmo uma pena, porque esta situação só prejudicou a selecção”, lamenta.
Sublinha que enquanto as selecções concorrentes reforçavam a equipa na segunda mão, realizada em Dakar, Cabo Verde perdia os seus jogadores que eram chamados para representar os seus clubes, asseverando entretanto, que ainda assim valeu a pena essa participação.
Quanto à queda da anterior equipa federativa, que terminou o curto mandato em polémica por ter decidido apostar na formação em detrimento da competição internacional, o jovem atleta mostra-se um acérrimo defensor da formação, mas considera que a selecção sénior terá de competir sempre ao mais alto nível, por forma a ser vista como um espelho para os jogadores de base.
Formar-se competindo
Estudante do terceiro ano do curso de gestão na Universidade Portucalense, UPT, Keven Gomes, afirma que conta com o total apoio do FC Porto para poder prosseguir os seus estudos universitários, não obstante as dificuldades em conciliar o profissionalismo com os estudos.
“Neste caso há que ter muita força de vontade e muita garra porque nem sempre consegue-se conciliar o acompanhamento das aulas com os treinos”, assevera, consciente que só com dificuldade se consegue vencer na vida.
Aos mais jovens fez questão de explicar, directamente de Portugal, nesta entrevista feita nas instalações do FC Porto, o quão importante são os estudos, reafirmando que “o basquete não é para sempre”, com o entendimento que depois de certa idade há que ter uma solução para a vida.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 825 de 20 de Setembro de 2017.