Xadrez: Personalidades curiosas o mestre analfabeto, o criado e a morte negra

PorRendy Santos,3 nov 2017 13:20

Sultan Khan (1905-1966) foi uma das personagens mais interessantes e misteriosas da história do xadrez. Era um servo hindu analfabeto, cujo senhor, um coronel do exército britânico um dia se deu conta do seu enorme talento para o jogo, mas segundo regras do sub continente indiano. Não nos esqueçamos de que estamos nos velhos tempos em que a Índia era colónia britânica.

Quando, em 1929, seu amo regressou, levou com ele o talentoso mas totalmente iletrado jogador para Grã-Bretanha. O coronel conseguiu que Khan participasse no campeonato britânico, o qual ganhou com um pé nas costas. Esta vitória constituiu um duro golpe para a sociedade britânica, tão classistas e tão vitoriana.

Khan haveria de repetir esta inigualável proeza por mais três vezes consecutivas. Seu jogo era sólido, com uma grande compreensão posicional e amplas manobras que pouco a pouco deixava sem recursos os seus rivais. Posto que era analfabeto, não sabia quase nada da teoria das aberturas, nem sequer podia anotar suas próprias partidas, necessitando sempre alguém que o fizesse por ele. Chegou a vencer renomados mestres como Capablanca, Rubinstein, Tartakower, mas nunca ganhou a Alekhine nem a Euwe, embora tenha empatado com o primeiro. Decorridos quatro anos, seu amo decidiu regressar à Índia e naturalmente levou com ele o seu criado. Terminava da forma menos espectacular a curta carreira de um jogador analfabeto cujas vitórias escandalizaram durante três anos a fina sociedade britânica. Khan viveu o resto da sua vida, como começou: pobre e ignorado numa remota aldeia da Índia. Outra personagem curiosa da história do nosso jogo é, sem dúvida, Joseph Henry Blackburne (1841-1924). Blackburne era um homem de carácter bastante forte e instável que passava com a mesma facilidade da irritação à depressão; legou-nos além das suas brilhantes partidas  um anedotário impar na história do xadrez. Conta-se que durante uma simultânea que deu na Universidade de Cambridge, os estudantes pensaram que seria mais fácil ganhá-lo colocando uma garrafa de whisky em cada extremo da mesa do jogo. No final da sessão, a Morte Negra, como era também conhecido, tinha bebido as duas garrafas e ganho todas as partidas em tempo recorde. Outra anedota narra que jogando uma sessão de simultâneas, Blackburne bebeu o whisky do seu oponente, quando este concentrado e nervoso pensava. Depois da partida disse que seu adversário ganhou-lhe um peão e ele para se vingar bebeu-lhe o whisky. Blacky sustentava a teoria de que beber whisky era salutar ao xadrez, porque o álcool, dizia, aclarava a mente. Fiel às suas ideias, Blackburne passou toda a vida a provar esta teoria sempre que se lhe oferecia a ocasião, que foram muitas durante os seus 83 anos de vida.

 

Musical World 1858
Mate em 2

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Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 831 de 31 de Outubro de 2017. 

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Autoria:Rendy Santos,3 nov 2017 13:20

Editado porAndré Amaral  em  3 nov 2017 16:59

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