Richard P. Feynman nos transcritos intitulados The Character of Physical Law de 1965 da Cornell University, disse que “A natureza tem apenas uma maneira de fazer as coisas, e ela repete sua história de tempos em tempos “. Infelizmente, como na teoria das leis da física a história tende a repetir-se se não aprendermos com o passado.
Em 1936, Carl Ludwig “Luz” Long era um atleta olímpico alemão que encarnava o próprio ideal do partido nazi. Alto, de olhos azuis e loiro de 21 anos, Long detinha o recorde europeu de salto em comprimento e esperava - junto com os líderes de seu país - ganhar uma medalha de ouro nos próximos Jogos Olímpicos de Berlim.
Nestes jogos o atleta foi o rival direto de Jesse Owens. Owens personificava a própria antítese da teoria da raça suprema de Hitler por ser de descendência africana. Owens acabaria por fazer história nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, ganhando quatro medalhas de ouro, quebrando ou igualando vários recordes olímpicos e estabelecendo três novos recordes mundiais. Foi o primeiro atleta Norte-americano a atingir tal resultado.
Mas Owens não ganhou todas essas medalhas por conta própria. Ele teve alguma ajuda (pelo menos para uma das medalhas). Essa ajuda veio de uma fonte muito improvável – o seu rival Carl Long. Quando Owens estava a competir com o salto em comprimento falhou nas duas primeiras tentativas na fase de qualificação. Enfrentando a perspetiva de não fazer a última eliminatória, Long que era seu concorrente e o favorito para ganhar o evento, entrou em cena. Não para o provocar, mas para dar conselhos. De acordo com a história do The Independent ele fez sugestões técnicas que ajudaram Owens a recuperar e mudar sua abordagem. As sugestões funcionaram e Owens conseguiu facilmente a distância de qualificação para a ronda final. De seguida, venceu o evento, derrotando o muito favorecido Long e irritando a liderança alemã.
A primeira pessoa a dar os parabéns a Owens por sua vitória no salto em distância foi Luz Long. Mais tarde nas suas memórias, Owens referiu que “o que mais me lembro foi da amizade que fiz com Luz Long", "ele era o meu rival mais forte, mas foi ele quem me aconselhou a ajustar minha corrida na fase de qualificação e, assim, me ajudou a vencer". Acontece que Long não era apenas um concorrente. Ele era um admirador de longa data do famoso atleta norte-americano e um amante do seu percurso.
Long continuou a fazer a sua carreira de atletas após os Jogos Olímpicos, mas de seguida foi recrutado para combater na segunda Guerra Mundial. Durante a invasão norte-americana à Sicília, em 1943, ele foi feito prisioneiro e executado no Massacre de BISCARI. Foi enterrado no cemitério de guerra de Motta Sant'Anastasia, na Sicília. Este massacre foi considerado um crime de guerra protagonizado pelos aliados e Long morreu numa frente de combate que não era a sua. Em 1964, o Comitê Olímpico Internacional, outorgou-lhe postumamente a Medalha Pierre de Coubertin (mais alta condecoração olímpica).
Long tinha em si os mais nobres valores e ideais, mas viveu a sua vida conivente com um sistema que estava errado. Morreu por causa desse sistema, mesmo atuando com mais elevados valores olímpicos. Hoje Long poderia nos ensinar que por mais que estivesse do lado da razão, a consequência da ausência da sua atuação dentro do próprio sistema selaria o seu trágico final. Hoje, todos podemos aprender com esta dura lição. Um sistema não pode ser definido por uma minoria, mas sim pelas consequências trágicas desenroladas por esta. A gravidade das consequências criadas por esta minoria torna ilegítimo o próprio sistema. Ainda hoje continuo “sem conseguir respirar”.