​A liderança e o desporto na RD Congo: Moise Katumbi Chapwe!

PorWilliam de Jesus Sena Vieira,24 out 2020 9:21

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William de Jesus Sena Vieira
William de Jesus Sena Vieira

Falar da liderança do desporto no continente africano é algo recente. Não por não ter havido, mas sim devido a uma quase ausência de comunicação continental para a promoção do próprio nacional africano no contexto desportivo.

Ela é de tal forma “quase ausente” que a aculturação ocidental acontece de geração em geração no continente berço.

No caso nacional, nasce-se, cresce-se e se é adulto com referências ocidentais em diferentes áreas da vida e no desporto é similarmente proporcional.

Figuras e exemplos presentes no nosso dia a dia como Sigmund Freud, Nicolau Copérnico, Nicolau Maquiavel, Adolf Hitler, Martin Lutero, Philip Kotler, Jesus Cristo, Jean Jacques Rousseau e no desporto, os casos de José Mourinho, Joseph Blatter, Yoan Cruyff, Rinus Michels, Ferenc Puskás entre outros, deixam a nossa visão mais enriquecedora, no tempo e espaço, por aquilo que fizeram e a contribuição que deram à população mundial nas suas respetivas áreas do saber. Porém, temos de assumir que é delimitada por alguns países e está centralizada na Europa e nos E.U.A. Porque não globalizar? Africanizar também? Ter uma visão mais ampla de outras culturas, outras formas de gestão, outros pensamentos? Será apenas e só a Europa e os E.U.A os centros do conhecimento, ou neste caso os centros do desporto mundial?

Deixando este pensamento para um outro certame e indo de encontro à temática de hoje, vou narrar sobre um dos homens mais influentes do continente africano na esfera social e como gestor desportivo.

Afinal, quem é Moise Katumbi?

Moise Katumbi Chapwe nasceu a 28 de dezembro de 1964 e é filho de um pai refugiado de origem grega e uma mulher de origem congolesa.

Foi criado na província de Katanga, uma das províncias mais ricas do mundo, localizada no sul da República Democrática do Congo, tendo como capital Lubumbashi, nome certamente herdado do saudoso combatente Patrice Lumumba. Katanga é de tal forma rica que já fora responsável pela produção de 60% do uranio e 80% dos diamantes lapidificados à escala planetária.

Para além do diamante e urânio, ela é responsável pela produção do famoso Cobalto (Calton), uma mistura de dois minerais, Columbita e Tantalita, utilizado no fabrico de aparelhos eletrónicos sobretudo em computadores e smartphones.

Ao longo da sua juventude, para além de formar-se em psicologia, tinha dois grandes amores, o ramo empresarial e o futebol!

Katumbi deixava assim as teorias de Sigmund Freud, empregando-as apenas nas relações humanas do dia a dia e apostava fortemente no ramo empresarial.

A sua visão empresarial já fora notada desde a sua tenra idade, quando abriu o primeiro negócio com 13 anos, na venda de peixes, onde nos primeiros tempos ganhou qualquer coisa a aproximar os 40 euros na venda do pescado.

Sua forma de pensar não se estendia apenas ao domínio pessoal. Ao contrário de muitos, pela sua destreza e muito esforço, fundou a sua primeira empresa no sector do pescado, onde também teve a sagacidade de apostar na exportação do seu produto para a Zâmbia, o país vizinho, maximizando assim o seu negócio.

Depois de se registar um enorme sucesso no seu negócio, expandiu para outros setores da atividade económica, como foram os sectores dos transportes, comércio, abastecimento de alimentos, etc.

Como já tinha anteriormente mencionado, teve a responsabilidade social, através das suas empresas, arranjando emprego a milhares de congoleses, sobretudo da região de Katanga e eletrificou toda a província que carecia de iluminação domiciliar e pública, estendendo-se também a zonas rurais daquela região.

Para ele, o sentimento de ver o seu povo com melhores condições de vida, era e é o seu maior propósito, por isso, não obstante, edificou hospitais, reabilitou e construiu escolas por toda a província de Katanga, deixando escrito a tinta indelével todo o amor sentido a desabrochar pela sua gente.

Como sempre diz o meu pai: “um homem é um animal social. E o que foi, é e será, um ser humano sem a sociedade? Somos grupais, ninguém vive só”.

Como a vida não é perfeita para ninguém, existem momentos bons e desafios que são para reflexão e resiliência, sendo ela a força motriz e a chave para se viver com maior compreensão e sabedoria.

Falo isso porque, por questões políticas, depois de anunciar a sua candidatura à presidência do RDC, foi perseguido e acusado de vários crimes.

E como ficara provado através dos tribunais, tudo não passou de uma jogada política perpetrado pelo antigo presidente congolês Joshep Kabila, deixando assim este cidadão fora das eleições, sem passaporte e expatriado na Bélgica.

Depois de ter provado a sua inocência, voltou à casa e foi recebido como nunca ninguém em toda a história do povo congolês fora recebido.

Datava precisamente o dia 20 de maio de 2019, o dia da sua chegada a Lubumbashi. Este momento foi um dos mais celebres na história da RDC, me fazendo relembrar a chegada do então imperador Etíope Haile Selassie a Kingston, a capital jamaicana em 1966.

Houve um grande aglomerar de pessoas, um enorme engarrafamento para ver o filho da RDC a chegar de onde nunca deveria ter saído e ajudar no desenvolvimento de um dos países menos desenvolvidos do mundo apesar de tanta riqueza residida no subsolo.

Desporto: A construção TP Mazembe, o maior clube da Africa negra

Moises Katumbi Chapwe é sem dúvidas, um dos homens mais influentes de toda a africa continental. Reconhecimento obtido através da Millenium Excellence Foundation em 2012, pela boa governação.

Foi também nomeado, em 2015, pela prestigiada revista pan-africana, Jeune Afrique como sendo Personalidade Africana.

Mas a sua governação não fora apenas política. Em 2015, foi ainda distinguido com o prémio Dirigente de Futebol do Ano atribuído pela Confederação Africana de Futebol.

Indo ao encontro do desporto congolês, não se pode falar do desporto na RDC e não mencionar dois nomes: Moise Katumbi e Tout Puissant Mazembe. Poderia estar eu aqui a falar de Vita Club - uma outra grande equipa congolesa e principal rival do TPM e Florent Ibenge (selecionador do RDC e treinador do Vita Club), mas estes dois nomes, primeiramente citados, ultrapassam qualquer clube e qualquer figura na RDC.

Sob a sua liderança, desde 1997, conseguiu grandes feitos: quer a nível de infraestruturas para o clube de Katanga quer no contexto dos resultados desportivos.

Foram 3 Liga dos Campeões Africanos (em 2009, 2010 e 2015), 2 Copa das Confederações da CAF (em 2016 e 2017), 3 Supertaças Africanas (2010, 2011 e 2016), 12 Campeonatos Nacionais (2000, 2001, 2006, 2007, 2009, 2011, 2012, 2013, 2014, 2016, 2017 e 2019), 1 Taça da RDC (2000) e 3 Supertaças Congolesa (2013, 2014, 2016), agregando um total de 22 títulos, ficando na lista dos presidentes mais titulados no mundo.

Ainda, esteve presente em 2 Mundiais de Clubes (2009/2010 e 2010/11), onde em 2010 alcançou a final, vencendo o Internacional de Porto Alegre nas meias-finais, caindo apenas na final diante do Inter de Milão de José Mourinho e Samuel Eto’o.

Mas antes de tudo isso, sonhou liderar, preparou-se para ser um dia presidente de um clube e foi instruir-se em clubes estrangeiros como Standard de Liège (Bélgica), Toulouse (França), no que à gestão do futebol internacional diz respeito, levando o clube congolês ao profissionalismo e ao domínio do futebol africano.

Katumbi é um autêntico “gentleman” do futebol africano. Conseguiu ainda feitos incríveis, como garantir que o clube tivesse o seu próprio Estádio de futebol, a sua própria academia e o seu próprio avião, feitos que poucos clubes conseguem no mundo, garantindo assim algum conforto num continente onde a questão logística é um grande problema.

Esta é a história da excelente relação de amor entre um clube e um humilde jovem fanático que cresceu apaixonado pelo seu clube, foi bem-sucedido economicamente, estando sempre pronto a ajudar o seu povo e o seu eterno amor TP Mazembe.

Podemos assim dizer que, tal o Soukous está para o povo congolês como o Moise está para o TP Mazembe.

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Autoria:William de Jesus Sena Vieira,24 out 2020 9:21

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  24 out 2020 13:39

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