O presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, durante a Assembleia Geral dos Comités Olímpicos Europeus em 2018, afirmou que o modelo desportivo europeu estava ameaçado comercialmente por indivíduos e organizações. Nessa declaração, Bach denunciou a falta de envolvimento dos governos e da União Europeia na suspensão do avanço dos organizadores comerciais, sugerindo que os políticos os viam como os organizadores tradicionais.
Por outro lado, Konstantin Grigorishin (financiador da Liga Internacional de Natação - ISL), insurgiu-se numa opinião divergente, quando declarou que o "dia do órgão dirigente desportivo está a chegar ao fim". Grigorishin sentou-se ao lado dos principais atletas da modalidade que tinham lançado corajosamente um processo judicial contra a Federação Internacional de Natação (FINA), na qual tinha ameaçado banir os nadadores dos Jogos Olímpicos.
Meses mais tarde, a retirada das ameaças legais da FINA viu o ISL entrar com sucesso comercial no desporto, com a sua liga de franchising a marcar mais uma vitória para o chamado modelo americano sobre a sua congénere europeia.
Esta semana assistimos ao fiasco da implementação da SuperLiga, e podemos analisar isto como uma vitória do modelo europeu com identidade cultural, em oposição às ligas de franchising, no qual os adeptos que ajudaram a obter uma vitória rara. O Presidente da UEFA, Čeferin, que se juntou a Bach no Congresso da UEFA em Montreux no auge desta crise esta semana, tem sido visto por muitos como tendo saído da semana mais forte do que antes. Čeferin foi eleito em 2018 comprometendo-se a ajudar a combater a desigualdade da distribuição de receitas que distorceram as competições nacionais em toda a Europa.
Esta pode ser uma área-chave que difere dos desafios colocados em 2018, quando Bach lamentou como os Governos não tinham compreendido a diferença entre os modelos europeus e americanos. Com os principais políticos da Grã-Bretanha, frança e Itália envolvidos no debate da SuperLiga com o objetivo de proteger o status quo, podemos questionar se isto poderá ser replicado noutros desportos caso sejam ameaçados.
Do mesmo modo, o envolvimento dos atletas deve ser considerado, como oposição ao plano da SuperLiga, na qual os jogadores prejudicam claramente as ambições dos proprietários. Isto verificou-se de forma oposta na altura do apoio dos atletas ao ISL que acabou por tornar a oposição da FINA sem sentido. O que parece claro é que os órgãos sociais destas organizações continuarão a enfrentar desafios por parte dos organismos comerciais e terão de apontar para uma melhor governação para justificar as suas posições estabelecidas.
A única forma de proteger o atual modelo europeu é na condução ética dos dirigentes desportivos no caminho da boa governança e transparência, realçando o papel do atleta no desporto e garantia a prevalência dos valores morais e éticos em sobreposição a um desenvolvimento assente numa prevalência dos direitos comerciais no desporto.