Este é um período muito controverso por 3 motivos em particular. O primeiro motivo é que se fica com a sensação de que o discurso á volta dos Jogos Olímpicos (JO) só se dá imediatamente antes, durante e logo nas primeiras semanas após os Jogos Olímpicos. O segundo motivo é porque existe em certa medida um silêncio geral, ou em total contraste, um acelerar de processos sobre este assunto pelas entidades que efetivamente devem ter uma reflexão sobre os resultados a curto prazo obtidos. Estou a falar claramente dos Governos que definem a política desportiva de um país. O terceiro motivo é devido ao facto de existir sempre quem esteja mal informado sobre a participação dos Jogos Olímpicos que faz uma opinião pouco sustentada sobre o decorrer dos mesmos. Mesmo que todas as opiniões sejam bem-vindas para o debate generalizado, era positivo que fossem em certa medida sustentadas com alguns factos.
Tendo sempre a tendência de ver as coisas pelo lado positivo, irei argumentar em relação a estes 3 motivos em particular. Desta forma poderemos entender de como tirar melhor proveito para um desenvolvimento positivo face aos novos desafios que Paris2024 podem apresentar.
Em relação ao facto dos discursos á volta dos JO se intensificarem apenas nestes períodos em particular, é importante desde logo aproveitar este espaço para criar um fórum que possa agregar esta vontade natural de abordar este tema. Assim pode se começar a idealizar metas concretas em conjunto com os vários stakeholders (desde os atletas, clubes, federações, comité olímpico e por último o governo e parceiros privados). Estas metas devem versar sobre o que almejar no futuro em relação aos Jogos. Entendo que este fórum a ser criado deve ser promovido pelo Governo (responsável pelas políticas públicas em matéria de desporto) em estreita relação como Comité Olímpico Nacional. Em Cabo Verde isto já aconteceu em 2017 (na preparação de Tóquio 2020) e só pecou por ter sido muito depois do final dos Jogos. Podem ser considerados no futuro 2 momentos concretos (um mais próximo e um mais distante) para construir este diálogo com participação global dos vários intervenientes enunciados.
Em relação ao silêncio (ou à aceleração de processos) imediatamente após os Jogos, temos agora o bom exemplo de Inglaterra, que numa análise imediata dos jogos resolveu fazer um aumento do financiamento do projeto Olímpico em 44% (atingindo as £232 M, o equivalente a 30 031 M de escudos cabo-verdianos) destinados aos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Este anúncio vai de encontro com uma política anunciada pelo governo da Grã-Bretanha que foi intensificada a partir dos JO de Londres 2012. Aqui o governo britânico teve logo uma posição clara (mesmo que depois possa ser algo de reflexão) em relação à importância dos JO no domínio das políticas publicas e da importância da participação do país para o desenrolar das mesmas.
Por fim, as opiniões gerais que se multiplicam dos vários quadrantes da sociedade, devem ser uma oportunidade para esclarecer muitas das razões pelo qual os resultados ou a conduta da participação de um país pode não no nível de espectativas em relação a certos sectores da população. No caso concreto de Cabo Verde foi dado um passo em frente e na generalidade as pessoas estiveram ao lado dos atletas nas suas prestações. Ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos equivale ao ser o melhor do mundo na sua atividade e, salvo muito raras exceções de verdadeiros superdotados, é injusto pedir aos atletas que possam ter este tipo de resultados quando o investimento realizado previamente na sua preparação para os Jogos é quase inexistente (isto em comparação com outros países que fazem fortes e notáveis investimentos nesse sentido).
Igualmente, é necessário esclarecer que estes resultados de medalhas, pouco ou nada servem, se não existir formalizada uma política pública de desenvolvimento através do desporto na qual as medalhas animam a base desportiva de forma que esta tenha um impacto positivo na vida das famílias desse mesmo país.
Importa relembrar que o pouco investimento feito nunca é um desperdício de recursos pois (1) o Comité Olímpico Nacional é obrigado a participar nos Jogos à luz da Carta Olímpica e (2) a participação de Cabo Verde tem também um domínio extradesportivo (fora do Field of Play) que se for bem planeado pode igualmente trazer ganhos para o país participante.