No passado dia 30 de Abril do ano corrente as equipas femininas de futebol foram impedidas de participar na Assembleia Geral (AG) da ARFSS e posteriormente convidadas a deixar a sala no acto de votação para a eleição da nova Direção da ARFSS.
Em conversa com o Expresso das Ilhas, a capitã de uma das equipas de futebol feminino, F. C. Jovens Unidos Calabaceira, Evy Mendes, sublinha que as equipas femininas de futebol, mesmo cumprindo todos os requisitos exigidos, foram impedidas de participar nas eleições.
Segundo a capitã, entre as exigências está o pedido de filiação na ARFSS feito em papel timbrado pelo clube e dirigido ao Presidente da Mesa da AG e assinado por pelo menos dois dirigentes do referido clube indicando o local da sede, envio dos estatutos e pagamento da importância relativa à taxa de filiação, as quais todas foram cumpridas.
“Todos os clubes receberam a notificação das eleições e cientes de que todos iriam votar, mas chegada a hora, mesmo cumprindo todos os requisitos exigidos, as equipes femininas foram impedidas de votar. Nós nos dedicamos e competimos da mesma maneira que os clubes masculinos. É lamentável o facto de não podemos votar, mesmo em termos de condições e campeonatos somos tratadas de forma diferente que os clubes masculinos”, testemunhou.
“Aspectos desmotivantes”
De acordo com Evy Mendes, a situação das equipas femininas de futebol vem melhorando, mas carece de uma atenção especial a esses aspectos que considera “desmotivantes”.
“Apelamos para a valorização. Fala-se todos os dias da igualdade de género, mas não sai do papel. Pagamos como os outros clubes para participar, contribuímos para a valorização do nosso país em termos de futebol, também temos direito de votar como atletas que somos, fazemos parte da associação, apelamos para os mesmos direitos”, apelou.
Por seu turno, o porta-voz dos clubes de futebol feminino, Edmilson Garcia, em representação da Comissão de Futebol Feminino de Santiago Sul, avança que foi dirigida uma carta ao presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, com conhecimento do Instituto do Desporto e da Juventude e do Ministro Adjunto do Desporto e da Juventude, expondo toda a situação e pedindo uma intervenção.
“Sr. Presidente, uma vez que não estamos a conseguir fazer valer os nossos direitos a nível da Direção e Mesa da AG da ARFSS vimos aqui apelar à intervenção do organismo máximo do futebol em Cabo Verde, antes de recorrermos às instâncias governamentais e mesmo a FIFA para fazer valer os nossos direitos. Num momento em que o futebol feminino conhece um desenvolvimento sui generis a nível mundial, não hesitaremos em mostrar ao mundo do futebol a discriminação em termos de género que se vem fazendo em Cabo Verde e em particular na Associação Regional de Futebol de Santiago Sul”, lê-se na carta.
Garantir os mesmos direitos
Segundo Edmilson Garcia, o motivo de os clubes femininos serem impedidos de votar é que alegadamente os clubes de futebol feminino não são filiados.
“O que não percebemos é que se os clubes não são filiados, não deviam participar nos campeonatos oficiais. Não percebemos também é por que é que só as 22 equipas masculinas puderam votar e exercer o seu direito como filiado e as restantes, pura e simplesmente, no acto das eleições foram impedidas e os seus nomes não constavam na lista”, questionou.
A carta, segundo o porta-voz, é a primeira acção expondo a situação à Federação Cabo-verdiana de Futebol e, a partir dali, segundo o mesmo conta, vai ser travada uma luta, com outros meios para reivindicar os seus direitos.
“Temos o discurso da igualdade de género, mas na prática deparamos com situações do tipo, onde as equipas femininas foram impedidas de votar, e isso tem vindo a acontecer nas eleições anteriores, onde as equipas munidas das mesmas condições que os masculinos, é negado o direito a voto”, sublinhou.
Garcia, aproveitou o momento para lamentar que “em pleno ano de 2022, ainda temos que lidar com situações de desigualdades, mulheres impedidas de votar”.
Em declarações ao programa Tribuna Vip, da TCV, Mário Donnay Avelino, presidente da ARFSS, eleito no passado dia 30 de Abril, disse que futuramente serão criadas condições para garantir os mesmos direitos a todas as equipas.
“Acredito que futuramente, mesmo para as equipas femininas, bem como para as equipas de sub- 17, vão ser criadas condições para que possam exercer os seus direitos normalmente. Os tempos mudaram, e temos que nos adaptar às novas situações. Vamos trabalhar em conjunto, humildemente para fazer o nosso melhor para o futebol”, avançou.
A Associação Regional de Futebol de Santiago Sul organiza os Campeonatos Regionais de Futebol, Basquete e Futsal para todos os escalões etários, seniores, juniores e juvenis.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1067 de 11 de Maio de 2022.