Os grandes eventos, como os Jogos Olímpicos, começam a tomar como certeza uma paridade no campo da participação feminina. Isso é facilmente resolvido com a atribuição de cotas desportivas nos vários eventos programados.
Contudo, existe um tema que seria interessante também explorar — As equipas mistas. Se no Corfebol é uma condição elementar, noutras modalidades isso não acontece. O Judo tomou a iniciativa de ter agora competições por equipas onde a pontuação geral de homens e mulheres tem impacto no resultado.
Outro exemplo interessante tem a ver com o processo de iniciação desportiva de algumas modalidades, em que existe uma naturalidade na utilização de equipas mistas para poder promover os objetivos de desenvolvimento global do atleta. Claro que não estou a comparar a iniciação desportiva com o alto rendimento com este tipo de solução, mas na lógica de uma matriz de desenvolvimento, apenas temos de considerar as regras do jogo subjugado ao seu objetivo.
Se o objetivo for a criação de igualdade oportunidades, era interessante explorar condições onde as equipas mistas possam ter significado para esse propósito. Este objectivo pode estar igualmente alinhado com todos os outros objetivos do desporto de alta competição (incluindo o espetáculo desportivo).
No futuro irá haver muitas mudanças, e provavelmente veremos uma presidente feminina do Comité Olímpico Internacional e muitas mais mulheres a chefiar os órgãos sociais do desporto. Este espectro de liderança de democracia representativa é uma tendência que decorre ao longo de alguns anos (mesmo de forma muito tímida, pois necessitamos de perto de 150 anos ao ritmo que estamos para chegar a um equilíbrio).
A lógica da participação de equipas mista poderia ser também um passo na procura de uma solução para a participação de atletas transgénero. Possibilitará uma alternativa a regras como foi recentemente imposta pela Federação Internacional de Natação, de proibir atletas transgénero de provas femininas. Por exemplo, o hóquei e o triatlo sinalizaram vontade da criação de uma categoria “aberta” onde os atletas transmasculinos e não binários podem competir, mas apenas contra homens.
Este tema é delicado, mas a falta de vontade de o debater e igualmente de manter o status quo numa sociedade em franco desenvolvimento nesta área, é profundamente contraproducente e irá gerar mais conflitos dos que aqueles que pode ativamente ultrapassar. O Desporto está em contínua mutação e a sua relação com o desenvolvimento social é indissociável.
Cabe a quem tem a competência e responsabilidade, lançar as bases de uma discussão aberta vinculada na procura do desenvolvimento harmonioso da sociedade… através do desporto.