Para o especialista em vela, Rodrigo Moreira Rato, o que torna a Ocean Race única é, acima de tudo, o seu legado histórico, associado ao enorme desafio desportivo.
“O que torna esta regata especial são 50 anos de história. Temos sangue, suor e lagrimas, já morreu gente, já houve casamentos, vamos na segunda geração, há filhos de atletas que participaram. Há aqui um legado enorme e um histórico enorme”, observa.
“Associado a isto, temos os melhores atletas e barcos que, em cada época, são sempre tecnologicamente mais avançados, modernos, com uma série de inovações”, acrescenta.
Uma gestão profissional, focada na obtenção de resultados e na promoção da prova, são outros ingredientes que transformam a competição num evento de escala planetária.
Além do presumível impacto económico directo, Moreira Rato, que num passado recente esteve ligado à organização de escalas da TOR em Portugal, realça que o evento ajudará a aumentar a notoriedade de Cabo Verde junto dos praticantes da modalidade.
“O país vai ter uma projecção muito grande. Estamos a falar de uma prova que passa de norte a sul, em todas as latitudes e longitudes. Cabo Verde vai ser falado em todo o lado e, certamente, pelas melhores razões. Depois, há um impacto que é mais difícil de medir, que é, no fundo, o passa palavra, o ‘fui a Cabo Verde’, ‘passei lá e aquilo é óptimo para deixar o barco’, para isto e para aquilo”.
No plano desportivo, Rodrigo Moreira Rato – que ao longo dos próximos meses vai comentar a Ocean Race para a Rádio Morabeza – destaca aquilo que presumivelmente espera as equipas da classe IMOCA, veleiros pensados para viagens em solitário ou duo e que são agora postos num contexto completamente diferente (ver texto).
“Vamos ver como é que estas embarcações se comportam e aguentam. Penso que, pelo orçamento que têm, pelo conhecimento do barco e qualidade da tripulação, a equipa mais forte será a 11th Hour Racing, dos Estados Unidos”, antevê.
Na classe VO65, a portuguesa Mirpuri Foundation Racing Team figura entre os favoritos para a Sprint Cup, a par dos polacos da WindWhisper Racing Team e dos holandeses da Team JAJO, esta liderada pela lenda TOR, Bouwe Bekking.
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As duas classes TOR
A classe IMOCA faz a sua estreia na Ocean Race, apresentando-se em prova com uma tripulação completa de quatro a cinco elementos. Habitualmente, estes veleiros são usados para navegação solo ou duo, com recurso a piloto automático, funcionalidade que não estará disponível nas embarcações TOR.
A construção é em fibra de carbono, o que garante resistência e baixo peso, contribuindo, a par do design, para uma embarcação rápida, segura e competitiva.
O comprimento do casco situa-se entre 17,98 e 18,3 metros, com um comprimento total máximo de 20,1 metros, largura máxima de 5,85 e calado de 4,5 metros. A altura máxima do nível da água até ao topo do mastro é de 29 metros.
VO65
Os VO65 são velhos conhecidos da regata, tendo já alinhado nas duas últimas edições. Ao contrário dos IMOCA, onde são permitidas personalizações, a partir de uma base comum, os veleiros da classe VO65 são todos idênticos, projectados para alta eficiência competitiva. São construídos em carbono, com casco simples (que vazio pesa 12.500 kg), acomodando uma tripulação de dez marinheiros.
O comprimento total é de 22,14 metros e a largura de 5,60 metros. O calado máximo é de 4,78 metros e o mastro tem uma altura de 30,30 metros.
As velas, todas do mesmo fabricante, ocupam uma área superior a mil metros quadrados.
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- Entre organização, equipas, cidades de acolhimento e outros parceiros, cerca de mil pessoas trabalham em cada edição da Ocean Race.
- Durante cada etapa, é normal as embarcações sofrerem estragos que requerem reparação, incluindo nos mastros. Em diferentes localizações, ao longo da regata, existem mastros de substituição que rapidamente podem ser entregues às equipas.
- A água potável consumida a bordo é produzida a partir de água do mar, por um dessalinizador instalado em cada embarcação. O equipamento disponibiliza até 50 litros de água por dia.
- Durante as etapas offshore, os velejadores alimentam-se essencialmente de comida congelada e desidratada, preparada com a adição de água quente.
- Em competição, os velejadores queimam entre 5 mil a 6 mil calorias por dia e podem perder até 11 quilos em cada etapa. A cada 24 horas, cada tripulante faz oito refeições.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1103 de 18 de Janeiro de 2023.