1967: A reflexão sobre os valores éticos da arbitragem em Orlando Mascarenhas

PorWlliam Vieira,26 set 2023 9:06

“Para sermos árbitros devemos possuir uma mentalidade aberta e uma intangível personalidade, um elevado espírito de justiça, uma imparcialidade resultante da formação moral e um conhecimento profundo das leis. Como árbitros devemos interpretar o espírito da lei que consiste em garantir que os dois partidos em luta sejam tratados em perfeita igualdade” (Mascarenhas 1967).

Como sempre deixo vincado e afastando o centrismo colonial sobre as realidades dos homens das nossas ilhas, trago hoje mais um subsídio para a história do desporto em Cabo Verde, sobre um dos homens com uma vasta história desportiva e de reconhecimento irrefutável que desde a sua tenra idade contribuiu para novos pensamentos e reflexões para a realidade do desporto na sua região.

Uma coisa é certa! Não existe e nunca existiu uma separação lógica entre a cultura e o desporto. Sempre andaram juntos e hoje estão inseridos na mesma indústria, a do entretenimento! Tal está N’toni Denti D’oro para a música, como também está Orlando Mascarenhas para o desporto, tal está a Cesária Évora para a música, como também está Luís Bastos para o desporto.

Voltando ao assunto central, como é a minha praxe, saio em direção ao Arquivo Histórico Nacional. Estando ali com alguma assiduidade, envolto nas minhas investigações sobre o desporto nacional, ao acaso, encontro num dos jornais históricos [O Arquipélago] um artigo de opinião intitulado a Ética do Desporto.

O artigo aborda a relação tida entre a arbitragem e o atleta e ao mesmo tempo o papel dos árbitros na reeducação e liderança no terreno de jogo. Estávamos sensivelmente em 1967, há 56 anos, com 32 anos, Orlando Mascarenhas era colunista daquele jornal, dispondo sempre de uma posição própria sem esquecer dos bons modos e o pensamento compensado.

Mascarenhas, como se apresentava naquele artigo, instigava a classe dos árbitros, a refletirem as suas condutas durante o jogo, como forma de reeducarem e ajudarem na educação dos próprios atletas.

Julgo que no período, a arbitragem na região estava sob fortes ameaças e este jovem de espírito aguçado e sentido critico elevado deixava a sua apreciação. Sendo até hoje um tema muito pertinente para o futebol nacional e também de cariz internacional, Orlando tecia a sua posição afirmando que a arbitragem apresentava as suas falhas, mostrando ser devido a falta de educação num sentido universal.

“Quando porfiamos na nossa teimosia ou desculpamo-nos ou pretendemos desculpar-nos insistindo na defesa de casos sobejamente comprovados, estamos simplesmente demonstrando a falta da mais elementar educação”.

“As lições de educação são nos ministradas em casa desde criança e têm primordial importância pelo nosso comportamento pela vida fora. Ora, o progresso da educação depende de fatores vários, tornando demasiado complexo e está relacionado, em grande parte, com as condições da organização concreta da atividade escolar e da sociedade”.

Argumentava ainda que era necessário que os árbitros também participassem neste processo de educação, pois são um dos elementos importantes para mudanças destas tais atitudes.

“Tentar justificar a crise da nossa arbitragem com a falta de educação dos nossos jogadores é um erro lamentável. Até porque compete os árbitros cooperarem nesta campanha de disciplina, através de suas atuações, dando o melhor do seu esforço, dirigindo com autoridade de forma a demonstrar aos atletas ganhando a sua confiança, de que o essencial não está em mandarem ou serem severos, mas em conseguirem o objetivo mandando o menos possível”.

Não obstante o clima vivido, Orlando elogiava tal ofício, demonstrando qual o papel e as características para poder assumir tamanha responsabilidade.

“Os árbitros merecem o nosso profundo respeito, merecem o nosso louvor pela sua missão, pela sua paciência, pela sua coragem. No entanto antes de abraçarmos esta nobre missão, devemos perguntar a nós mesmos: reunimos os indispensáveis requisitos para desempenharmos tão difícil trabalho?”

“Para sermos árbitros devemos possuir uma mentalidade aberta e uma intangível personalidade, um elevado espírito de justiça, uma imparcialidade resultante da formação moral e um conhecimento profundo das leis. Como árbitros devemos interpretar o espírito da lei que consiste em garantir que os dois partidos em luta sejam tratados em perfeita igualdade”.

Por fim, realçava que deveriam convencer no período que era necessário ultrapassar algumas barreiras e só depois afirmar que a arbitragem cumpria os pré-requisitos para o cumprimento das leis do desporto rei.

“Temos de convencer senhores árbitros, de que há crise de arbitragem e, depois, sim, trabalharemos com afinco e aprovaremos a todos que a nossa arbitragem é boa, é honesta e digna, e a nossa finalidade se resume ao cumprimento exato das leis do jogo”. 

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Autoria:Wlliam Vieira,26 set 2023 9:06

Editado porAndre Amaral  em  27 set 2023 9:07

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