Investigador agrícola cabo-verdiano conseguiu reproduzir cerca de 250 pés de Marmulano, planta endémica da ilha de Santigo e que por decreto de 2002 foi considerada “com pouca ou nula possibilidade de recuperação”.
Bacharel em Irrigação e Novas Tecnologias, Domingos Leal disse hoje à Inforpress que depois de ter conhecimento deste decreto-lei, em 2010 começou a procurar soluções, indo ao terreno para fazer investigação nos rochedos da região.
Segundo este investigador, com esta pesquisa pode-se colmatar um problema de biodiversidade, uma vez que esta planta é consumida por macacos, aves, ou ratos que, em vez de invadirem e danificar os cultivos dos agricultores, podem ficar nas rochas a comer Marmulano.
Uma das características desta planta, de nome científico (Sideroxylon Mirmulano), refere Domingos Leal, é a sua potencialidade medicinal, e isto foi uma das causas da sua extinção devido à intensa procura.
Apesar de não querer entrar em questões técnicas, informou que esta planta tem uma condição climática bastante complicada, visto que nos primeiros tempos (30 a 35 dias) exige uma certa quantidade de humidade e se não encontrar essas condições pode morrer.
“Para além da dificuldade na reprodução, se encontrar condições não muito favoráveis de equilíbrio com humidade a mais ou muito abaixo do necessário, acaba por secar. Nos primeiros anos de investigação das 585 sementes que recolhi, apenas consegui 100 e tal (…) uma quebra altamente desfavorável, mas do ano passado para cá consegui atenuar este problema”, frisou.
Domingos Leal disse à Inforpress que este trabalho de recuperação já é do conhecimento da Delegação da Direcção Geral do Ambiente, que de seguida comunicou o facto ao director do Parque Natural de Serra Malagueta para negociar a compra desta espécie, mas até hoje não recebeu nenhuma resposta, e isso provocou-lhe um certo “desânimo”.
Entretanto, segundo disse, na sequência desse sucesso que levou já à reprodução de pelo menos 250 novas plantes de Marmulano, está agora empenhado em conseguir um apoio do Governo no sentido de puder continuar com este projecto.
Disse, por outro lado, que no âmbito de um plano de monitoramento desta planta, está-se a pensar na sua duplicação em 10 (%) por cento. Entretanto, segundo explicou, se por exemplo na região dos Picos tiverem à volta de 25 “plantas matriz”, num ano representa duas plantas e meio.
“Como já produzi cerca de 250 pés, posso dizer que estamos com uma multiplicação de 10 vezes mais, em relação ao plano de monitoramento”, disse.
Por outro lado, considera que este projecto que foi financiado pela Comissão Regional de Parceiros em 320 contos a fundo perdido e também pela associação Fami-Picos, “está sendo desvalorizado”, e por isso apela ao Ministério do Desenvolvimento Rural para colaborar com esta investigação.
“Já consegui cumprir com o meu papel, e que agora cabe ao Governo cumprir com o seu”, enfatizou o investigador agrícola.