Segundo o chefe de operações da DHL, Júlio Imbula, nos últimos dez meses registou-se um crescimento acentuado do volume das encomendas. “Em cada mês, cerca de 20% das encomendas são de compras online no estrangeiro”, revela Júlio Imbula.
O e-commerce “já ganhou terreno” no volume da encomenda dos Correios de Cabo Verde (CCV), considerou o director das operações e logísticas, Bruno Tavares. “Arrisco-me em dizer que 60% das encomendas são do e-commerce”, indica.
O aumento das encomendas causou dificuldades na entrega. Para as contornar, os CCV têm na forja um projecto para agilizar a entrega na própria agência. Segundo Tavares, o projecto deverá ficar concluído dentro de um mês.
“Vamos aproveitar o envio da mensagem CIP (código de informação postal) para fornecer outros dados para que seja o próprio dono da encomenda a informar o atendedor sobre a localização da sua encomenda”, avança Tavares, que espera com este sistema diminuir o tempo de entrega para menos de dez minutos.
Segundo Bruno Tavares, 99,9% das encomendas provenientes dos países asiáticos pertence ao e-commerce. Em 2017, de Singapura vieram 31.843 encomendas, da China 28.709, de Hong Kong 4.660 e da Malásia 967.
E-commerce vem perdendo terreno
Comparativamente à compra nos estabelecimentos comerciais, o pagamento efectuado na Internet em 2016, onde se inclui também as compras online, em termos de valor foi de 1,1%. No ano passado, o valor caiu para 0,55%. O valor mais alto foi registado em 2015, na ordem dos 2,31%.
Para Marco Bento, manager da loja online do Benfica, sediada em São Vicente, as elevadas taxas alfandegárias e A falta de conhecimento das pessoas têm condicionado o crescimento do e-commerce em Cabo Verde. “É um processo pedagógico que tem que ser feito, mas para o fazer têm que ser sites em Cabo Verde a fazer este trabalho”, realça Marco Bento.
Para incrementar o e-commerce, segundo Bento, é preciso reduzir as taxas alfandegárias nos produtos mais importados, nomeadamente os equipamentos desportivos, vestuários, calçados e produtos electrónicos.
Há que também informar sobre a segurança do pagamento online. “As pessoas têm que acreditar que há segurança na questão do pagamento online”, diz Marco Bento. “A SISP já trabalha com várias empresas, já temos o tipo de pagamento com Cartão 24, Visa, há instâncias onde já temos Master Card”, reforça.
Especializada em produtos desportivos, a loja virtual do Benfica está em actividade desde Julho de 2016, mas o movimento online ainda é fraco.
A plataforma digital compracomgarantia.com reúne na sua página algumas lojas. “Neste momento representamos à volta de 50 stakeholders, ou seja, parceiros de negócio”, contabiliza Luzito Veiga, gerente da plataforma.
Na opinião de Veiga, Facebook não é um espaço apropriado para fazer negócio, como tem acontecido. “Ali toda gente possui duas caras e muitas vezes não se consegue saber quem é quem”, defende Veiga, ciente de que se houvesse regulamentação podiam sair da informalidade.
No final de 2016, estavam registadas na SISP 251 empresas de vendas online, estando 17 activas. Nesse ano, o número de empresas registadas tinha assinalado um crescimento de 52,2%.
O sector do e-commerce no país ainda carece de regulação. O responsável pelo programa Quadro Integrado Reforçado, Gilson Lima, anunciou na semana passada a intenção do Governo em criar um quadro legal para regular esta actividade comercial.
Defendeu também a criação de outros dispositivos para pagamento online, forma de distribuição, facilidade de navegação. Para Lima, com o e-commerce consegue-se a internacionalização dos produtos nacionais de uma forma mais rápida.
Compras no balcão virtual
A variedade dos produtos nas montras virtuais pode ser vista e comprada do sofá da sala. Mais do que a diversidade da oferta e a comodidade, o que mais atrai a clientela nacional é o baixo preço dos produtos.
O e-commerce representa comodidade, privacidade e diversidades de produtos. “Sem gastar dinheiro em deslocações tem-se o acesso a todas as lojas nacionais ou estrangeiras e o produto pode custar menos”, diz o informático Nelson Ribeiro.
Não ver o produto fisicamente é uma desvantagem. “Apesar de informarem que é novo, temos a curiosidade de pegar e observar como é realmente”, frisa Ricardo da Luz. “A forma de pagamento causa alguma dificuldade”, acrescenta.
Outro constrangimento prende-se com o transporte dos produtos. “O tempo de entrega do produto é um pouco longo, e muitas vezes, fora do acordado”, salienta Ribeiro.
Riscos de comprar na Net
Riscos como o de ser burlado, enganado por sistemas laranja e perder o dinheiro estão sempre à espreita. Cabe ao ‘cliente virtual’, estar bem informado a fim de neutralizá-los ao máximo.
“Há que saber analisar os sites fidedignos para saber se onde se vai fazer a compra tem todos os direitos de segurança preservados”, sugere Ricardo da Luz, uma vez que há também o perigo dos dados do cartão serem apropriados indevidamente.
“Pode passar facilmente por sistemas de burla, e sistemas laranja. O cliente pode perder dinheiro sem ter o retorno”, aponta Ribeiro, acrescentando também a possibilidade de receber produtos falsificados.
Dicas para boa compra, em segurança
Comprar nas lojas virtuais é vantajoso, por causa do custo reduzido, comodidade, mas também pela diversidade dos produtos. No entanto, dicas como comparar o preço dos diferentes sites e definir bem o que se está à procura podem redundar em melhor negócio.
“Há lojas online que praticam um preço mais competitivo que outras. O segredo é saber escolher a que pode ser mais vantajosa”, sugere da Luz. Em termos práticos, há que escolher o produto a comprar e fornecer informações sobre a morada/dados pessoais/número de telefone/caixa postal.
O cliente tem que estar tento à segurança do site. Para verificar este item importante Nelson Ribeiro aconselha: “Verificar na barra de endereço se contém a imagem de um cadeado ao lado das inicias HTTPS.”
Entretanto, o risco do cliente virtual ser enganado está sempre à espreita. “Uma vez que você já pagou o produto está sob o risco de ser burlado”, revela Ribeiro. Muitas pessoas já pagaram por produtos que nunca receberam, ou chegaram trocados e ou danificados.
Quanto à possibilidade de se ser burlado no cartão de crédito, o esclarecimento de Nelson Ribeiro traz alguma tranquilidade. “Existe regra de pagamento que dificilmente pode ser burlado no seu cartão. O débito só é visto para a quantia do produto no sistema de paypal”, sublinha.
Sites mais procurados
Amazon, Delextreme, E-Bay, Ali Babá, Ali-Express são os sites mais procurados pelos nacionais para fazer compra porque dão mais confiança, segundo Nelson Ribeiro.
“No Ali Express encontramos uma grande variedade de produtos por um preço barato. O mais importante é que praticam o free shipping (frete gratuito) para Cabo Verde. E-Bay também o faz”, aponta Ricardo da Luz.
O que mais se compra
No ‘carrinho online’ de compra, com destino a Cabo Verde, entram bijuterias, vestuários, calçados, acessórios, como perfume, relógio, peças de carro, equipamentos electrónicos, eléctricos e informáticos, telemóveis, gadgets, livros, artigos de decoração da casa.
Preço baixo compensa e satisfaz clientes virtuais
Reina a satisfação nos consumidores que já compraram nas lojas virtuais. O preço baixo dos produtos compensa o longo tempo de espera pela sua chegada, até mesmo os casos em que nunca chegaram, e outros que se revelaram diferentes do que foi mostrado nas vitrinas online no momento da compra.
Nos balcões virtuais já comprou telemóveis, roupas e acessórios. “O volume das despesas nas compras online situa-se em torno dos 50 mil escudos”, contabiliza o informático Luís Furtado. A preferência de Luís obedece a duas razões: “mais diversidades de produtos e mais barato.”
A conjugação dos factores como rapidez na recepção e preço baixo, comodidade foram decisivos para que o analista político, António Miranda, rendesse às lojas virtuais. Costuma comprar “peças de viaturas, vestuário, electrodomésticos, adereços e acessórios como relógios/malas/perfumes.” “Sempre chegou a tempo e em óptimas condições”, revela.
A falta de cartão de pagamento tem impedido Lucy da Veiga, recém-formada e desempregada, de fazer compras online mas não de visitar as lojas virtuais. “Sempre visito as lojas online”, revela. Para já, fica apenas desejo de comprar na Net. As vantagens ela já conhece: “Vejo que têm produtos num preço mais acessível e muitas vezes a entrega é grátis.”
As mais-valias do e-commerce não causam o mesmo nível de fascínio em todos. Suzana Monteiro, assistente social, não foi às compras na Internet por falta de interesse. “Ainda não pesquisei os sites sobre comércio online”, diz Monteiro, assegurando, todavia, deter informações sobre esta modalidade de comércio.
Sempre com um pé atrás, Sónia Duarte, professora, tem recorrido às lojas virtuais para guarnecer o guarda-fatos. “Tenho sempre um pouco de medo nas compras online”, admite Duarte, que seduzida pelo baixo preço dos produtos prefere continuar a arriscar nas compras online.
Para além de uma alternativa para poupar dinheiro, as lojas virtuais são montras de grandes variedades de produtos que não existem no ‘mercado territorial’ de Cabo Verde.
A jornalista, Carla Lima, prefere as lojas físicas, mas a comodidade, preço e diversidade dos produtos convencem-na a comprar na Net. “Aqui quase nunca se encontra o que se quer e a preços decentes o recurso é comprar online”, diz.
Entre a compra e a demora na chegada do produto, sobra muitas vezes a frustração de não o receber, ou então de receber gato por lebre no mercado virtual. “Às vezes, o produto não é bem o que mostram as fotografias”, queixa-se Lima, lembrando a frustração de não ter recebido um vestido.
Para Ademir Lopes, estudante universitário, habituado a comprar nas lojas online, pediu o reembolso para os produtos que não recebeu. “Nos sites onde fiz a compra, o pedido de refunding resultou”, assegura, mas não deixa assinalar isso como constrangimento.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 850 de 14 de Março de 2018.