O que é este fórum?
Essencialmente é um think thank que a PSO realiza em quatro PALOP (Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Princípe) sobre as grandes tendências do sector financeiro. Já começamos aqui em em 2017 e tem vindo a evoluir de acordo com as tendências e a velocidade disruptiva que esta pandemia provocou. Nomeadamente adaptações a processos, a cadeia de valor do blockchain, o open banking. É essa a matriz que tem vindo a ser debatida noutros países e que, no ano passado, fruto das condições pandémicas não podemos realizar aqui e que vamos realizar na sexta-feira.
Há termos que se usam actualmente como as fintech ou as regtech. Se as fintech são operadoras tecnológicas ligadas à área financeira, o que são as regtech?
Esse é um dos objectivos do forum, debater e explicar toda esta literacia à volta da inovação do sistema financeiro. De facto há uma panóplia de conceitos que são, de facto, quem está a irromper na nova cadeia de valor da banca ou sistema financeiro tradicional com a tecnologia toda ela baseada numa plataforma blockchain e onde depois aparecem vários elementos que estão de facto a irromper como a cloud, o open banking, os neo banks que são os bancos virutais. E nesse sentido, Cabo Verde começa a assumir-se como uma plataforma de implementação do digital/porta de entrada na África continental devido à sua localização geoestratégica.
Ao longo dos anos tem-se falado muito na transformação de Cabo Verde numa plataforma/praça financeira internacional. Tendo em conta o cenário tecnológico actual em que o recurso à internet e ao digital é cada vez mais usado faz sentido usar-se um termo tão clássico como esse? Que papel é que pode ter Cabo Verde neste novo cenário?
A pergunta tem relevância, porque, se calhar, mais do que praça financeira eu diria que Cabo Verde tem várias condições para se tornar num cluster financeiro e tecnológico prestador de serviços. Eu iria mais por essa via. Cabo Verde vive momentos de grande relevância mundial por causa do cabo submarino transatlântico. Penso que poderão haver afinamentos na área da regulação e, se calhar, da criptomoeda. Tudo aquilo que Cabo Verde pode fornecer para criar este cluster e as suas indústrias colaterais como a ciber-segurança.
Começaram em 2017, em termos de mercado financeiro e de recurso às novas tecnologias já se nota alguma mudança?
Eu penso que os actores financeiros locais estão a fazer um esforço nesse sentido. Muitas vezes com as matrizes das casas-mãe ou também dos mentores das fintech como o Brett King. Há vários mentores que, se calhar, inspiram os membros das administrações dos três ou quatro bancos que têm cerca de 70% do mercado cabo-verdiano. Penso que, depois, tudo o que é à volta dos sistemas de pagamentos, uma MBWay, isso sim ainda tem passos para dar. Falta, se calhar, implementar e haver uma atitude mais dinâmica para este aceleramento que a pandemia veio provocar e que obrigar a uma dimensão do digital muito mais expressiva.
No fundo menos papel e mais digital.
Talvez. Embora o papel nunca possa ser substituído. Um dos temas que vai ser debatido no fórum é o acoplamento do modelo tradicional de trabalho nos bancos com a entrada do digital nos processos, na simplificação de tratamento de informação, no homebanking através do mobile banking. Como é que as fintech podem ser vistas como um parceiro win-win e não como uma entidade que vai eliminar postos de trabalho.
O que é que atraiu a PSO para Cabo Verde?
A PSO tem vindo a construir com o Ministério das Finanças e o Cabo Verde Digital várias frentes de debate e vê, de facto, um potencial grande no posicionamento geoestratégico de Cabo Verde. O sector financeiro tem a dimensão que tem, mas pode vir a ter uma dimensão muito superior ao haver uma captação de recursos e de investidores na área tecnológica no futuro. Dou um exemplo: a União Europeia vai dar o seu testemunho na conferência sobre uma das prioridades que existem entre Cabo Verde e a União Europeia que é o digital. Por outro lado a Bolsa de Valores que estará presente juntamente com a SISP e o regulador vão debater aquilo que são as prioridades para que o sistema seja mais estruturado, para que o sistema tenha de facto uma evolução que se espera mais rápida.
Em Cabo Verde surgiram, ao longo dos últimos anos, plataformas de pagamento online. O caminho faz-se por aí?
Eu acho que nós temos exemplos em África que vão ao encontro disso para populações mais remotas, como é o caso da plataforma da Vodafone em Moçambique que tem tido um sucesso extraordinário devido à tecnologia utilizada. Eu acho que esse é o futuro mas depende da rapidez e do ponto de situação da regulação para se usar essas ferramentas.