BAD defende que é preciso repensar a arquitectura financeira global

PorExpresso das Ilhas, Lusa,26 mai 2022 8:12

O economista-chefe do Banco Africano de Desenvolvimento defendeu hoje que é preciso repensar a arquitetura financeira global porque o princípio de que o enriquecimento dos países ricos beneficiaria mais tarde os países pobres “não aconteceu realmente”.

“Precisamos de reconsiderar a forma como a arquitectura financeira global é estruturada. Temos de discutir isso porque ela foi criada após a Segunda Guerra Mundial para abordar problemas específicos, mas as contrariedades para a economia global de hoje não são as mesmas do tempo em que John Maynard Keynes pensou nos modelos e nos instrumentos para recuperar no pós-guerra”, disse o também vice-presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) Kevin Urama.

Para o economista, que falava aos jornalistas após apresentar as Perspectivas Económicas Africanas no âmbito dos encontros anuais do BAD em Acra, o modelo actual “serviu o seu propósito”, mas hoje é preciso repensar o seu funcionamento.

“Já vimos que uma das maiores assunções do efeito cascata (trickle-down effect), de que quando se fica mais rico os pobres vão ter empregos e beneficiar da riqueza dos países ricos, não aconteceu realmente”, concluiu.

Questionado pela Lusa sobre que mensagens o relatório das Perspectivas Económicas envia à comunidade internacional, Urama disse serem três mensagens de prazo imediato.

A primeira tem a ver com os Direitos Especiais de Saque (DES), emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar a amortizar os impactos fiscais da covid-19, mas que só beneficiaram áfrica em 33 mil milhões de dólares, de um total de 650 mil milhões.

As economias avançadas receberam muito mais, lembrou Urama, sugerindo que os países desenvolvidos podem decidir realocar os seus DES para África através do BAD, que por ser uma instituição financeira com ‘rating’ AAA pode alavancar esses recursos até quatro vezes.

“É uma relação em que ambos ganham, tanto os países desenvolvidos como os países africanos em desenvolvimento”, disse.

A segunda tem a ver com a iniciativa de suspensão do pagamento da dívida, que foi assumida para dar espaço fiscal às economias africanas durante a pandemia, mas já expirou.

Estes dois instrumentos permitiram reduzir a dívida de 71,4% do PIB em 2020 para cerca de 70% em 2021, mas “agora os países têm de pagar os seus empréstimos, mas ainda estão em crise”, não só a crise provocada pela covid-19, mas também pela guerra na Ucrânia, dois dos países que mais exportam cereais para África.

Este conflito “aumentou os preços da energia, dos alimentos, dos fertilizantes e de outras mercadorias, por isso o cidadão comum está a sofrer significativamente”.

E a terceira tem a ver com o reabastecimento do Fundo Africano de Desenvolvimento, criado para apoiar os países mais frágeis e vulneráveis de áfrica, que “tem sido instrumental a ajudar esses países que não têm acesso aos mercados de capitais”.

O BAD pede por isso um reabastecimento superior ao habitual para permitir financiamento concessional a esses países vulneráveis afectados pelas alterações climáticas, a guerra na Ucrânia e outros desafios.

E pede também que este fundo seja autorizado a recorrer ao mercado de capitais para alavancar cada dólar que recebe por quase quatro vezes, para que estes países recebam mais do que os doadores oferecem.

Nas suas Perspectivas Económicas Africanas, hoje apresentadas, o BAD conclui que o PIB real de África recuperou fortemente no ano passado para 6,9%, depois da recessão em 2020 originada pela pandemia de covid-19, mas prevê que a economia africana desacelere este ano para 4,1%, reflectindo incertezas relacionadas com a persistência da covid-19 e o impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,26 mai 2022 8:12

Editado porAndre Amaral  em  26 mai 2022 14:43

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.