"Fizemos algo que era uma visão e que agora está a tornar-se realidade. O que estamos a fazer é estabelecer um mercado integrado, que tem sido uma visão de longa data dos líderes africanos", disse Wamkele Mene, numa intervenção nas Reuniões Anuais do Banco Africano de Exportação e Importação (AAM2024) e do 3.º Fórum de Comércio e Investimento Afro-Caribenho (ACTIF2024).
Na sua intervenção, Mene destacou os progressos significativos já alcançados mas alertou para a importância da vontade política dos dirigentes africanos.
"Estamos no bom caminho em termos de construção da base jurídica que posiciona o continente para ser um mercado comum. O segundo aspecto importante é a vontade política e o empenhamento", afirmou.
Lançado em 2018 e aprovado um ano depois, o acordo de livre comércio em África entrou em vigor no princípio de 2021 e abrange um mercado com mais de 1.300 milhões de consumidores.
A União Africana estima que a sua concretização sem barreiras poderá aumentar o crescimento do comércio em, pelo menos, 53% e potencialmente duplicar o comércio intra-africano, retirando 30 milhões de africanos da pobreza extrema e aumentando os rendimentos de quase 68 milhões de outros.
De acordo com o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) do continente poderá crescer 450 mil milhões de dólares (cerca de 420 mil milhões de euro) até 2035.
O tratado, que elimina os direitos aduaneiros sobre 97% das mercadorias comercializadas entre países africanos, liberaliza o comércio de serviços e melhora as infraestruturas de regulação e comércio.
Actualmente, as exportações intra-africanas representam cerca de 16% do comércio externo dos países africanos, em comparação com 55% para a Ásia, 49% para a América do Norte e 63% para a União Europeia (UE).
Apesar disso, 47 dos 54 membros da União Africana ratificaram o acordo, comprometendo-se a eliminar as barreiras comerciais e a reforçar a integração económica.
Sete países - Benim, Libéria, Líbia, Madagáscar, Somália, Sudão do Sul e Sudão - ainda não o ratificaram e a Eritreia continua a não concordar com a criação da AfCFTA.
"Em menos de cinco anos, conseguimos chegar a um consenso sobre políticas e complexidades macroeconómicas de longa data, políticas e complexidades económicas industriais e, para mim, isso diz muito sobre a vontade política dos nossos chefes de Estado. Não estou preocupado com o facto de haver alguns países que ainda não ratificaram", disse Mene, que se manifestou confiante que esses países vão avançar com a ratificação.
A AfCFTA pretende simplificar o comércio através da normalização das regras de origem para cerca de 92% dos produtos comercializados em África, mas persistem dificuldades em sectores como os têxteis, o vestuário e a indústria automóvel.
O secretário-geral da AfCFTA explicou que se tratam dos dois sectores mais complexos do ponto de vista do desenvolvimento industrial.
Mais de três mil delegados, incluindo chefes de Estado e de Governo de África e Caraíbas, iniciaram quarta-feira, em Nassau, as Reuniões Anuais do Afreximbank e o 3.º Fórum de Comércio e Investimento Afro-Caribenho.
Os dois eventos, que terminam na sexta-feira, decorrem sob o tema "Donos do Nosso Destino: Prosperidade Económica na Plataforma da África Global" e apostam em definir soluções para os desafios que afectam as economias da África e das Caraíbas.
A organização anunciou que pretende concluir mais de 25 acordos de investimento no que será um primeiro passo para a criação de um Acordo de Comércio Livre Afro-Caribenho.