A TACV é a única companhia a fazer as ligações domésticas.
As falhas têm-se repetido desde há vários meses e o cenário de hoje é o mais recente numa crise de transportes crónica no arquipélago.
"Soubemos que os voos estavam cancelados quando chegámos aqui e vimos [a indicação] na tela do aeroporto, mas ainda ninguém nos disse nada”, referiu à Lusa, Manuel Duarte, no Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na cidade da Praia, com bilhete marcado, com outras quatro pessoas, para regressar ao trabalho na ilha de São Vicente.
“Estamos aqui como uns ignorantes, à espera, como se estivéssemos a andar de boleia. Mesmo se fosse assim, devíamos ser respeitados. Para sairmos daqui, temos de ter informação. Somos da ilha de São Vicente e não temos para onde ir”, disse, após mais de duas horas de expectativa.
As queixas avolumam-se: "Já tenho até vergonha de falar, porque os políticos dizem que tudo está bem", referiu.
"Somos desportistas, nós os quatro, vamos para São Vicente para trabalhar, vamos perder o dia de trabalho de hoje e quiçá amanhã porque não sei qual é a hora a que vamos sair daqui. Eles fogem como ratos, ninguém diz nada. Quero que me digam alguma coisa", sustentou.
No ecrã de informações do aeroporto, todos os voos domésticos do dia estão cancelados, o que deixou várias pessoas enfurecidas.
Um outro passageiro é Elizito Pina, empresário que se deslocava para um festival musical na ilha da Boavista, mas que se deparou hoje com os voos cancelados e sem nenhuma informação da companhia.
"Chegamos aqui para fazer o ‘check-in’ e, do nada, pararam. Ficámos aqui à espera. Depois avisaram nos altifalantes que os voos foram cancelados. Isto é complicado, porque vamos para a Boavista trabalhar num festival e estamos atrasados. Ainda nem sabemos se vamos conseguir ir amanhã, não disseram nada, só ficaram com os nossos contactos", relatou.
Além da incerteza de conseguir chegar ao destino, há também o problema em conseguir manter os técnicos que o acompanham na cidade da Praia.
"Os técnicos que vieram comigo não têm onde ficar, estavam por minha conta até ontem [domingo]", referiu, apontando que precisa de um lugar para ficar enquanto não for resolvida a situação.
Também Albino Sequeira, que vai para a ilha de São Nicolau, "na esperança” de assistir ao funeral da mãe, está há horas no aeroporto, esperando por "uma satisfação".
"O Governo está a brincar com o povo cabo-verdiano, um país que tem dez ilhas e não há aviões. É uma situação constrangedora”, disse.
A Lusa tentou obter informação junto da companhia e do Ministério dos Transportes, mas não obteve respostas.
O Governo tem repetido promessas de criação de ligações fiáveis e regulares entre ilhas, mas até hoje sem soluções.
Investidores e parceiros têm indicado que falta de uma estratégia para o setor dos voos domésticos é uma grave limitação para o desenvolvimento do país.