Campanha agrícola considerada desfavorável, com redução de 75% na produção

PorAnilza Rocha,8 nov 2025 8:42

O Relatório Preliminar aponta um ano agrícola 2025-2026 manifestamente desfavorável, com uma redução da produção de cerca de 75%, em comparação com o ano passado. Apesar do recuo, a segurança alimentar no país não está em risco.

Os dados preliminares, apresentados sexta-feira passada, no ministério da Agricultura e Ambiente, apontam para uma produção de milho de 1.074 toneladas, quando no ano passado se registaram aproximadamente 4.900 toneladas, avançou o coordenador do grupo de trabalho pluridisciplinar de acompanhamento e avaliação da campanha agrícola, Celestino Tavares.

Embora considere a produção importante, reforça que, mesmo num bom ano agrícola, a produção nacional cobre apenas cerca de 10% das necessidades alimentares dos cabo-verdianos.

“Nós somos um país importador. No balanço alimentar que fazemos, a importação sempre contou mais do que a produção local, no que diz respeito a milho e feijões”, argumenta.

Tendo em conta as alterações climáticas, Celestino Tavares entende ser necessário que o país comece a investir na introdução de espécies e variedades de sementes mais adaptadas à realidade climática.

“Podemos continuar com as mesmas espécies, mas teremos de encontrar variedades mais produtivas e mais adaptadas ao ciclo das chuvas”, defende.

Segundo o responsável, o Ministério da Agricultura e Ambiente tem em curso um conjunto de intervenções com foco na modernização da agricultura, incluindo programas de massificação da rega gota-a-gota e o incentivo à massificação de culturas protegidas, que permitem maior rendimento em espaços reduzidos.

No programa de massificação da rega gota-a-gota, o Ministério comparticipa em cerca de 50% dos custos, até uma área de dois mil metros quadrados. Cada agricultor pode recorrer ao Ministério para o financiamento de metade dos materiais necessários à instalação do seu sistema de rega.

Tavares lembra que a agricultura em Cabo Verde enfrenta vários desafios, entre os quais a escassez de água e de solo fértil.

“A área cultivada este ano em regime de sequeiro é apenas de 12 mil hectares, quando, na prática, temos um país com 4.033 quilómetros quadrados. A disponibilidade de solo é o segundo factor limitante ao desenvolvimento da agricultura em Cabo Verde”, adverte.

Resultados do Relatório Preliminar

Assim como o milho, que registou uma forte quebra na produção, o feijão seguirá o mesmo rumo. Para este ano, a produção de feijão é de 1.168 toneladas, quando em 2024 chegou às 6 mil toneladas.

No que diz respeito à produção de pasto, nas zonas altas e intermédias registou-se boa produtividade, enquanto no litoral, nos estratos árido e semiárido, assinala-se uma produção fraca e, em alguns concelhos, quase nula.

Relativamente à disponibilidade de água para a horticultura, os dados indicam uma situação mediana.

“Não houve escoamento superficial significativo aqui na ilha de Santiago, onde temos a maior área de regadio temporal, mas, segundo dados da Agência Nacional de Água e Saneamento, a recarga dos furos é normal e temos alguma disponibilidade de água em determinadas barragens”, acrescenta.

Relativamente à precipitação, Tavares considera que, mesmo que ainda ocorram chuvas neste semestre, em termos de produção, o cenário não se alterará. O milho e os feijões de ciclo curto, como o bongolom e o feijão sapatinha, já completaram o ciclo vegetativo e foram colhidos.

A chuva seria “interessante” para os feijões de ciclo longo, nomeadamente o feijão-pedra e o feijão-congo, acrescentando que uma precipitação adicional também beneficiaria a horticultura.

Recomendações

Em função dos resultados, a equipa que esteve no terreno elaborou um conjunto de recomendações destinadas aos serviços centrais e às autoridades nacionais e municipais, com vista à tomada de decisões que mitiguem os efeitos negativos da campanha agrícola.

Entre as recomendações destacam-se a utilização criteriosa da água actualmente disponível nas barragens e a prestação de assistência técnica de proximidade aos agricultores, para que, com a quantidade de água existente, possam produzir da melhor forma possível.

Outra recomendação é criar condições para que os agricultores possam maximizar a recolha e conservação de pastos e continuar a promover a luta biológica contra as principais pragas das culturas de sequeiro.

Esta última revela-se a melhor abordagem a adoptar na gestão das principais pragas, uma vez que o relevo acidentado e a sobrecarga de tarefas dos agricultores dificultam o uso de produtos químicos.

“Estamos a falar do gafanhoto, do percevejo-verde e da lagarta-do-cartucho. No sequeiro, a luta química é complicada por várias razões. Assim, a luta biológica é a melhor abordagem que podemos adoptar na gestão das principais pragas das culturas do sequeiro”, explica.

O especialista frisa, contudo, que a aplicação desse método em áreas irrigadas é mais complexa, devido à proximidade entre parcelas.

“O tratamento feito numa parcela pode, por deriva, eliminar inimigos naturais libertados noutras áreas”, refere.

A avaliação final da campanha agrícola será efectuada em Março do próximo ano.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1249 de 05 de Novembro de 2025.

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Autoria:Anilza Rocha,8 nov 2025 8:42

Editado porDulcina Mendes  em  8 nov 2025 11:29

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