O brasileiro Otávio Good põe o telemóvel sobre a mesa, carrega num botão e fala no seu português nativo. Barak Turovsky, russo, aguarda uns segundos e escuta uma voz robótica no seu idioma, respondendo em russo. Ambos falam inglês no dia a dia e trabalham juntos nos laboratórios de reconhecimento de linguagem da Google, mas querem demonstrar a capacidade da sua ferramenta na primeira pessoa.
É parecido com o que a Skype tinha experimentado há menos de um mês, mas não funciona em vídeo conferência e sim no mundo real, com duas pessoas presentes. Este avanço não é uma nova aplicação, nem é um serviço. Teoricamente é apenas uma actualização do tradutor do Google, mas terá uma grande utilidade numa multitude de situações.
E esta não será a única inovação que se verá tanto na versão para Android como para os aparelhos da Apple. Por exemplo, basta apontar o telemóvel a um cartaz, de qualquer idioma, e descobrir, no nosso, o que lá está escrito – perfeito para saber os trajectos para um monumento ou para ler um menu de restaurante em segundos ou ainda a primeira página de um jornal. O sistema combina o clássico OCR [reconhecimento óptico de caracteres], a tecnologia dos scanners e a realidade aumentada. Converte a imagem em texto, traduz e mostra sobreposto ao aviso original sem a sensação de espera.
O tradutor oral utiliza a aprendizagem automática [machine learning, em inglês], uma técnica usada dentro do campo da inteligência artificial que imita a maneira como os humanos adquirem conhecimento. Quanto mais se usa, mais acertados serão os resultados. Quantos mais dados recolher, maior será a possibilidade de acertar. Turovsky estima que a média actual de êxito do tradutor de voz seja de 80 por cento. “Sabemos que há erros, mas uma má tradução é melhor do que nada”, defende. O sistema ainda não é perfeito.
No entanto, a soma de ambas as novidades, virtualmente, oferece liberdade de movimento aos turistas. Actualmente, apesar de não ter anúncios e de não gerar lucros para o Google, o programa de tradução do motor de busca tem mais de 500 milhões de utilizadores por mês. 95 por cento deles estão fora dos Estados Unidos da América. Brasil e México são os países que mais recorrem ao Google Translate.
Para já, a tradução de voz funciona em 36 idiomas. Para a tradução de cartazes de texto os idiomas são ainda limitados, apenas se consegue traduzir o inglês para francês, alemão, italiano, português, russo e espanhol, e vice-versa, mas sempre a partir do inglês. Não se pode, por exemplo, traduzir um cartaz de italiano para espanhol.
A boa notícia? Ambos os engenheiros garantem que o Google não tem a intenção de cobrar por estes serviços.