Hung-Hsi Wu é professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley. Numa entrevista publicada este domingo no jornal Público, acentua que o essencial no ensino da matemática é melhorar os conhecimentos dos professores.
Hung-Hsi Wu diz que a coisa mais importante que fez na vida foi começar a mudar a forma como é ensinada a matemática para professores. Só desta forma, considera o académico, a matemática pode chegar às crianças e aos jovens. “O essencial é melhorar o conhecimento matemático dos professores”, resume este matemático que tem uma carreira científica ligada à geometria diferencial e que a partir dos anos 90 virou as agulhas para o ensino da matemática nos níveis básico e secundário. Tem vários livros publicados sobre estas questões – o último, de 2016,Compreender os Números na Matemática Escolar – Álgebra, será editado em breve em Portugal. Na entrevista ao matemático português Jorge Buescu, da Universidade de Lisboa e novo presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Hung-Hsi Wu diz que mais do que construir melhores programas e melhorar os manuais escolares, o mais importante é melhorar os conhecimentos matemáticos dos professores. “Os professores dos Estados Unidos aprendem pedagogia, psicologia, etc. O que acho escandaloso é que, nos últimos cem anos, ninguém se tenha preocupado seriamente com a forma como os professores estão a aprender a matemática que mais tarde têm de ensinar. Quando dei por isto, fiquei incrédulo. Nem queria acreditar! Os especialistas em educação gostam muito de citar a obra pedagógica de Felix Klein [matemático do século XIX]. Mas a verdade dos factos é que nada do que ele escreveu tem relevância para o que os professores têm hoje de aprender para ensinar”.
Para Hung-Hsi Wu “muitos professores não têm tempo, não têm informação, não têm recursos para pensar profundamente na forma como vão ensinar. E portanto limitam-se a seguir o que está no manual. Hoje em dia os manuais são o que são: maus”.
De acordo com o professor, a matemática do jardim-escola ao 12.º ano é uma escadaria que tem de ser percorrida com o objectivo de preparar os alunos para a matemática superior. “É forçoso, a pouco e pouco, conduzi-los no sentido da abstração”, concluiu.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 768 de 17 de Agosto de 2016
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