Maryam Mirzakhani, a iraniana que recebeu a Medalha Fields em 2014, tinha 40 anos e ensinava em Stanford, na Califórnia.
A sua lista de prémios e distinções é impressionante. Ainda em 2016, Maryam Mirzakhani tornou-se na primeira iraniana eleita para a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos em reconhecimento pelo “eminente e contínuo sucesso em investigação original”. Dois anos antes, tinha feito história ao tornar-se na primeira mulher a receber o mais relevante prémio para um matemático.
“Houve uma luz que se apagou hoje, parte-me o coração… Desapareceu demasiado cedo”, escreveu este sábado no Instagram o iraniano Firouz Naderi, ex-cientista da NASA. “Um génio? Sim. Mas também uma filha, mãe e esposa”, acrescentou depois no Twitter.
Duas vezes vencedora das Olimpíadas Internacionais de Matemática, em 1994 e 1995, licenciou-se depois na Universidade Sharif de Teerão e completou o doutoramento na Universidade de Harvard, nos EUA, em 2004. Aos 31 anos já era professora na Universidade de Stanford, na Califórnia.
“É uma grande honra. Ficarei feliz se encorajar jovens mulheres cientistas e matemáticas”, disse quando venceu o Fields, o equivalente do Nobel para a Matemática atribuído pela União Internacional de Matemática (UIM).
“É um momento extraordinário”, afirmou então Christiane Rousseau, vice-presidente da UIM. “A Marie Curie teve prémios Nobel na física e na química no início do século XX. Mas na matemática foi a primeira vez que uma mulher ganhou o prémio mais prestigiado. Esta é uma celebração das mulheres”.
Um dos galardões mais importante da matemática, o prémio é um equivalente do Nobel para a matemática. Atribuído pela primeira vez em 1936 (com uma interrupção de 14 anos), desde 1950 que é anunciado de quatro em quatro anos, tendo dois a quatro vencedores por edição, mas até 13 de Agosto de 2014 não havia o nome de nenhuma mulher na lista de vencedores.
Nascida dois anos antes da Revolução Islâmica que mudou profundamente o seu país, Mirzakhani contava que nos tempos de Harvard “tinha de explicar incessantemente que, enquanto mulher, tinha o direito de frequentar a universidade” no Irão.
Mirzakhani estudou no liceu Farzanegan da capital iraniana, a seguir foi para a Universidade Sharif, onde a qualidade do ensino é muito elevada e só entram muito poucos dos candidatos que fazem o seu exigente concurso.
A maioria dos universitários no Irão são jovens mulheres e o regime gosta de ver os seus “cérebros” fazerem o doutoramento nas universidades ocidentais. A ideia é que regressem, o que acontece raras vezes. Mirzakhani nunca voltou. Casou nos EUA com Jan Vondrák, teórico da Ciência da Computação checo, com quem teve uma filha, Anahita.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 816 de 19 de Julho de 2017