Não é novidade para ninguém que o excesso de sal faz mal à saúde. A associação entre uma dieta rica em sal e as doenças cerebrovasculares, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e mesmo um prejuízo nas funções cognitivas também já foi feita em alguns estudos. Porém, não se sabia como é que este dano era provocado. O jornal Público escreve que um estudo feito em ratinhos, publicado esta segunda-feira na revista Nature Neuroscience, confirma os estragos que o sal provoca no cérebro e esclarece um dos mecanismos responsáveis pelos danos cognitivos. O alerta para este cenário negro do sal chega com uma luz ao fundo do túnel: os efeitos são reversíveis. Bastará tirar o excesso de sal do prato.
“Descobrimos que se alimentarmos ratinhos com uma dieta com um alto teor de sal (oito a 16 vezes mais do que a dieta normal), correspondente aos maiores níveis de consumo de sal em seres humanos, isto vai comprometer o cérebro a nível cognitivo”, explica ao Público Costantino Iadecola, professor de neurologia e cientista no centro de investigação Weill Cornell Medicine, em Nova Iorque, nos EUA, e principal autor do artigo publicado na Nature Neuroscience.
O efeito no cérebro, adianta, resulta da acumulação no intestino delgado de uma classe especial de linfócitos chamados Th17 e que produzem grandes quantidades de um tipo especial de uma citocina (moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células) chamada IL17. “A IL17 entra na circulação sanguínea, actua nas células endoteliais do cérebro, que ligam os vasos sanguíneos do cérebro, e reprime a produção de óxido nítrico. O óxido nítrico é fundamental para relaxar os vasos sanguíneos do cérebro e permitir que o fluxo sanguíneo seja suficiente e para ajudar os neurónios a manterem-se saudáveis”, refere o cientista. Assim, a perda de óxido nítrico reduz o abastecimento de sangue para o cérebro e causa uma disfunção neuronal que leva a danos na cognição. E, sublinha Costantino Iadecola, os efeitos nocivos do sal no cérebro são independentes das subidas de pressão sanguínea. “Portanto, o alto teor de sal na dieta, por si só, é capaz de prejudicar a função cerebral”, conclui.
Mas, como realça o jornal Público, há um lado bom da história. O teste também mostrou que, quando os ratinhos regressavam a uma dieta normal, voltavam também a ter um desempenho normal na tarefa de reconhecimento de objectos. Segundo cientista, a extrapolação dos resultados pode ser feita também para seres humanos.
“A exploração e a construção do ninho são actividades críticas para a vida de um ratinho e que podem ser traduzidas em grandes defeitos cognitivos em seres humanos. O labirinto de Barnes, por exemplo, testa um tipo de memória que também é afectada nos seres humanos em situações de demência. Portanto, podemos assumir que nos seres humanos, como nos ratinhos, teríamos uma perturbação das actividades do quotidiano.”
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 842 de 17 de Janeiro de 2017.