Mulheres na informática: de maioria a raridade

PorExpresso das Ilhas,3 mai 2018 11:11

Primeira turma de formados no curso de Ciência da Computação do IME/USP, em 1974, na qual as mulheres eram a maioria
Primeira turma de formados no curso de Ciência da Computação do IME/USP, em 1974, na qual as mulheres eram a maioria IME/USP

A história da Informática estão cheios de nome femininos de quem poucas pessoas ouviram falar, apesar do enorme contributo dado a essa área. Até porque nos primórdios, o mundo dos computadores era essencialmente dominado pelas mulheres.

Ada Lovelace, Mary Kenneth Keller, Grace Hopper, Dana Ulery, Hedy Lamarr e Kathleen Antonelli. São nomes desconhecidos para a maioria das pessoas, que a BBC evoca numa reportagem sobre o papel das mulheres na informática, realçando a sua presença maioritária nos primeiros tempos do sector.

De facto, e ao contrário de hoje em dia, houve uma época em que as mulheres eram maioria. Isto porque essas máquinas eram usadas basicamente para realizar cálculos e processamento de dados, actividades então associadas à função de secretária. Assim sendo, eram quase só utilizadas por mulheres, escreve a BBC.

Além de serem a maioria, as mulheres não se limitaram ao papel de meras utilizadoras, sendo que há vários nomes que desempenharam um papel importante no desenvolvimento do sector, tanto a nível de hardware como de software.

Esse papel não se iniciou com a afirmação da informática no mundo quotidiano. Vêm desde, verdadeiramente, os primórdios disciplina. É o caso de Ada Lovelace (ou Ada Byron, filha do famoso poeta inglês Lorde Byron), que “desenvolveu o primeiro algoritmo da história”, ou de Mary Kenneth Keller, uma freira americana que deu um contributo importante à criação da linguagem de programação BASIC.

Há na realidade vários outros exemplos, como Grace Hopper que “criou a linguagem de programação Flow-Matic, hoje extinta, mas que serviu como base para o desenvolvimento de outra linguagem, a COBOL”.

Outro nome a lembrar é o de Dana Ulery, a primeira mulher engenheira da Nasa e que desenvolveu algoritmos para a automatização dos sistemas de rastreamento de tempo real da agência espacial americana.

E cada vez que usamos um telemóvel ou uma rede wi-fi, usamos tecnologia também criada por uma mulher, neste caso Hedy Lamarr.

A lista de contributos femininos na área da computação continua: Kathleen Antonelli, que com Jean Jennings Bartik, Frances Snyder Holberton, Marlyn Wescoff Meltzer, Frances Bilas Spence e Ruth Lichterman Teitelbaum programou o ENIAC, o primeiro computador electrónico digital de propósito geral da história, conforme conta a BBC.

A inversão

Foi a partir de meados dos anos 80 que, de acordo com a BBC, as mulheres começaram, paulatinamente, a dar lugar aos homens na informática. Entre 1990 e 2000, a proporção de género foi-se equilibrando e depois do virar de milénio é que, a cada ano, o número de mulheres que optou por seguir computação decaiu.

O fenómeno é comum em quase todo o mundo: os cursos de computação são frequentados hoje por uma esmagadora maioria de homens, embora se comece a verificar uma maior adesão das mulheres a estes cursos.

No mundo laboral, a mesma coisa. Apenas 30% dos funcionários das grandes empresas tecnológica como o Facebook, o Google, o Twitter e a Apple. Um estudo Women in Tech 2018, publicado pelo portal americano HackerRank, mostra que dos 14.616 desenvolvedores de software que responderam à pesquisa, pouco mais de 10% eram do sexo feminino, cita ainda a reportagem da BBC.

As razões deste afastamento são também evocadas por alguns entrevistados e entre elas está o facto de os materiais de divulgação dos primeiros computadores (após 1984) terem sido voltados para o público masculino.

Outra causa possível levantada é que os computadores pessoais foram, pelo menos numa primeira fase, mais utilizados por meninos devido aos jogos que tinham e os quais as meninas não eram incentivadas a jogar.

A falta de incentivo para a informática continua na escola, dizem os entrevistados.

Um outro aspecto lembrado pela pesquisadora Eliane Pozzebon, coordenadora do curso de Engenharia da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina, é que, nos anos 1970, a área de informática não era muito valorizada - as máquinas tinham pouco processamento e memória. "O trabalho com os computadores era braçal e repetitivo, então acabava sendo realizado mais por mulheres", explicou à BBC.

Mas, segundo diz, o afastamento do sexo feminino dessa área não é exclusivo de um período.

"Há também a questão cultural", frisou. "Desde a nossa infância, os pais preferem bonecas para as meninas e videogames para os meninos. A figura do nerd sempre esteve associada ao menino."

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Autoria:Expresso das Ilhas,3 mai 2018 11:11

Editado porAndre Amaral  em  3 mai 2018 11:11

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