A primeira nave que tocará o Sol

PorExpresso das Ilhas,14 ago 2018 8:35

Tudo pronto para o lançamento da sonda Parker, a primeira que penetrará na atmosfera de uma estrela e viverá para contar

Durante os eclipses totais do Sol, é possível observar a atmosfera da estrela, que encerra um enigma físico que ninguém até hoje conseguiu explicar. Em 1869, durante uma ocultação do astro pela Lua, observou-se uma linha espectral de cor verde que não correspondia a nenhum elemento químico conhecido e que foi batizado como corónio, pois estava na coroa, a atmosfera do Sol. Setenta anos depois, esclareceu-se que esse elemento na verdade era o ferro, mas para ter essa cor devia estar 200 vezes mais quente do que a superfície da estrela, algo aparentemente impossível.

“Uma chama de fogo fica mais quente quanto mais se aproxima dela, mas no Sol acontece justamente o contrário, a coroa está a um milhão de graus [Celsius], enquanto a superfície do Sol está a apenas 6.000. É algocontra natura, e enquanto não formos até lá não saberemos como isso é possível”, disse David Lario, um astrofísico de Badalona (Catalunha, Espanha) que faz parte da equipe científica da Sonda Solar Parker, daNASA, citado pelo brasil.elpais.com. Essa nave desenhada pela Universidade Johns Hopkins (EUA ), onde Lario trabalha, será a que mais se aproximará de uma estrela até o momento: apenas 6 milhões de quilômetros do Sol, sendo que a Terra está a 150 milhões de quilômetros.

A nave da NASA é protegida por um escudo térmico de carbono de 12 centímetros de espessura, que alcançará temperaturas de 1.400 graus, perto do ponto de fusão do ferro. Do outro lado da couraça, um sistema de refrigeração manterá o equipamento electrónico a 30 graus. Os quatro instrumentos científicos a bordo estudarão os electrões, os núcleos atómicos carregados, os protões e os átomos de hélio da coroa solar, bem como os campos magnéticos que o astro gera, para esclarecer a origem do vento solar epoder antever tempestades solares perigosas para a Terra.

A nave também é primeira da história que leva o nome de uma pessoa viva. Em 1958, o físico norte-americano Eugene Parker previu a existência do vento solar, uma corrente de núcleos atómicos, electrões e outras partículas que viajam peloSistema Solara aproximadamente três milhões de quilómetros por hora. A ideia enfrentou muita rejeição de outros especialistas, até ser confirmada em 1962 pela primeira sonda interplanetária, a Mariner II, que explorouVénus.

A Parker deve descolar a 11 de Agosto doCabo Canaveral, na Flórida. Alcançará sua órbita em torno do Sol a 1 de Novembro. A força de gravidade da estrela, quase 30 vezes maior que a da Terra, acelerará a nave até 200 quilómetros por segundo, a maior velocidade já alcançada por um artefacto espacial. Nas suas primeiras sete órbitas, a Parker usará o impulso de Vénus para frear e reduzir a sua distância orbital em torno do astro, dentro de uma missão em que dará 25 voltas em torno da estrela e durará até 2025 — embora seu funcionamento possa ser prorrogado enquanto funcionarem dois componentes-chaves: os painéis solares e os propulsores que se encarregam de que o escudo térmico esteja sempre voltado para o Sol. Quando o combustível se esgotar, a sonda ficará desprotegida e derreterá sem produzir chamas, pois não há oxigénio na atmosfera do Sol.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 871 de 07 de Agosto de 2018.

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Autoria:Expresso das Ilhas,14 ago 2018 8:35

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  14 ago 2018 8:35

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