Oito exemplos de como banalizamos as doenças mentais

PorExpresso das Ilhas,22 out 2018 6:54

​Frequentemente utilizamos na linguagem quotidiana termos sobre transtornos que incapacitam. Às vezes, levam ao desrespeito dos direitos das pessoas afectadas por essas doenças.

Os transtornos mentais serão a principal causa de incapacitação no mundo em 2030, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A depressão, segundo a agência, será a primeira causa de morbidade.

Especialistas chamam a atenção para a forma como banalizamos estes transtornos no dia-a-dia: “Hoje estou um pouco deprimido”, “o problema é que é bipolar”... Nossa linguagem alimenta-se de termos clínicos para definir situações cotidianas “e com uma forte conotação negativa”, destaca Julio Bobes, presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, citado pelo El País. “A única coisa positiva que está associada às pessoas com doença mental é que são muito pacientes: lidam com seu transtorno e também com o estigma social”.

“Na Espanha, mais de um milhão de pessoas possui um transtorno mental grave, e estima-se que um em cada quatro, ou seja, 25% da população tem ou terá algum tipo de problema de saúde mental ao longo da vida”, afirma José Luis Méndez Flores, assistente social e responsável do Serviço de Informação e Formação da Confederação Espanhola de Saúde Mental, citado pela mesma fonte e acrescenta: “No entanto, esses problemas continuam sendo, significativa e socialmente, pouco conhecidos. Muitas pessoas pensam que um problema de saúde mental é uma “fraqueza” ou “culpa” da pessoa, e o problema de saúde não é reconhecido como tal”.

Comecemos por não usar de maneira banal os nomes dos transtornos, cujo “uso polissêmico”, nas palavras de Bobes, “não transmite com precisão o que queremos dizer e cria um estigma para pessoas que estão limitadas por eles”.

Por exemplo, dizer que alguém tem “TOC” por ser muito metódico. Pessoas que sofrem de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) não são simplesmente muito organizadas: «Sua preocupação excessiva com o perfeccionismo ou o controlo mental e interpessoal impedem a manifestação de outras características, como a flexibilidade e abertura a novas experiências, e obscurecem ou impossibilitam a eficácia”. Este transtorno afeta 1% da população, segundo o manual oficial de diagnóstico de doenças mentais DSM-IV.

Chamar de “esquizofrênico” algo louco, estranho ou descontrolado, dizer “depressão” quando queremos definir tristeza, dizer “bipolar” para se referir a alguém que muda com facilidade de ideia ou estado de ânimo, dizer “ansiedade” para falar de nervosismo ou mesmo de impaciência.

A ansiedade, segundo a OMS, afecta 1,9 milhão de pessoas na Espanha (4,1% da população) que experimentam “um sentimento de apreensão ou medo, uma preocupação incontrolável e excessiva sobre um grande número de eventos ou atividades (como o desempenho no trabalho ou nos estudos), que geralmente dura mais de seis meses”, segundo o site espanhol “1 de cada 4”.

Muitas destas doenças levam ao suicídio. O suicídio causa a morte de 10 pessoas por dia na Espanha, sendo que os homens respondem por 75% do total, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE). “É imprescindível acabar com os mitos e ideias errôneas sobre este problema para eliminar o estigma e culpa da conduta suicida [como, por exemplo, que uma tentativa de suicídio é para chamar a atenção], facilitando, assim, que pessoas com ideias suicidas peçam ajuda”, explica Nel A. González Zapico, presidente da Confederação Espanhola de Saúde Mental.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 881 de 17 de Outubro de 2018.

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Autoria:Expresso das Ilhas,22 out 2018 6:54

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  22 out 2018 6:54

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