Mercúrio é o planeta do nosso sistema solar mais próximo do Sol. E é também um dos mais desconhecidos. Que mistérios nos reserva? É isso que quer esclarecer a BepiColombo, uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). Desta forma, torna-se a primeira missão europeia a Mercúrio. Às 00h45 deste sábado no centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa, a BepiColombo partiu em direcção a Mercúrio a bordo do foguetão Ariane 5.
As nossas visitas a Mercúrio começaram com a sonda da NASA Mariner 10. Embora tenha feito aproximações ao planeta em meados dos anos 70, nunca chegou a entrar na sua órbita. Contudo, trouxe-nos as primeiras imagens mais próximas do planeta. Durante três décadas, esta foi a única sonda a visitar o planeta. Aliás, o nome da actual missão é uma homenagem ao cientista italiano Giuseppe Bepi Colombo, que estudou Mercúrio e concebeu a trajectória gravitacionalmente assistida da Mariner 10.
Em 2004, lá foi lançada a sonda Messenger (também da NASA), que explorou Mercúrio de 2011 a 2015. Percorreu cerca de 7900 milhões de quilómetros, fez 15 voltas em torno do Sol, uma passagem pela Terra, duas por Vénus e três por Mercúrio. E conseguiu mesmo entrar na órbita do planeta. A Messenger enviou mais de 250 mil imagens de Mercúrio e mapeou o planeta com grande pormenor. Além disso, analisou a gravidade e o campo magnético do planeta, descobriu água na sua exosfera ou detectou indícios passados de actividade vulcânica.
Na viagem até Mercúrio vão duas sondas: a Sonda Planetária de Mercúrio (MPO) da ESA, que observará o planeta a partir da sua órbita ao estudar a sua composição, topografia e morfologia da superfície e interior; e a Sonda Magnetosférica de Mercúrio (MMO) da Jaxa, que estudará o ambiente de Mercúrio e a sua magnetosfera. “Será a primeira vez que duas sondas fazem observações coordenadas e simultâneas de diferentes pontos do ambiente de Mercúrio”, refere-se num comunicado da ESA, citado pelo jornal Público.
Num forno de pizza
Segundo uma notícia no site da revista Nature, esta sonda dupla terá custado 1600 milhões de euros e terá sido uma das missões mais caras da ESA. Afinal, como Mercúrio está tão perto do Sol e tem condições extremas, houve vários desafios durante a sua concepção. Cerca de 85% da tecnologia da BepiColombo foi feita especialmente para a missão. “Podemos dizer que a BepiColombo está a promover a tecnologia espacial por ter construído um satélite capaz de voar ‘num forno de pizza’ e suportar o calor em Mercúrio”, diz Mauro Casale, responsável pelo desenvolvimento do segmento científico da missão, no comunicado.
Além disso, o responsável frisou que há mudanças de temperatura que vão de 170 graus Celsius negativos a 450 graus, uma radiação solar dez vezes mais intensa do que na Terra e vento solar a soprar a uma velocidade de 40 quilómetros por segundo. Ao longo da sua construção, participaram 83 empresas de 12 países no projecto, segundo o comunicado.
Nessa viagem, a BepiColombo vai fazer uma aproximação à Terra, duas a Vénus e seis a Mercúrio antes de alcançar a sua órbita no final de 2025.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 882 de 24 de Outubro de 2018.