Detectada maior colisão de buracos negros alguma vez observada

PorExpresso das Ilhas,11 dez 2018 6:36

​Quatro ondas gravitacionais resultantes da maior colisão de buracos negros foram detectadas pelo LIGO. Responsável por uma destas descobertas explica porque é que isso importa.

Os cientistas detectaram deformações no tecido espaço-tempo resultantes da maior colisão entre dois buracos negros alguma vez observada pelos astrofísicos. O Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferómetro Laser (LIGO) revelou ter encontrado quatro novas ondas gravitacionais, ondulações na curvatura do espaço-tempo que se propagam à velocidade da luz e que testemunham a fusão entre dois corpos celestes extremamente densos, como os buracos negros.

De acordo com o relatório, no ano passado já havia sinais de que essas ondas gravitacionais tinham agitado as antenas do LIGO, mas eles não eram tão evidentes como os que protagonizavam as ondas gravitacionais detectadas no passado. Após uma análise mais cuidadosa aos dados — e depois de a New Scientist ter noticiado falhas comprometedoras nas leituras que o observatório tinha feito no passado –, o LIGO foi capaz de chegar a certas absolutas: aquele sinal era mesmo uma onda gravitacional provocado pela colisão de dois buracos negros gigantescos.

Um dos buracos negros tinha uma massa 34 vezes maior que a do Sol e outro tinha a massa de 50 sóis. Este último é o maior alguma vez observado e traz pistas para um fenómeno que ainda não conhecemos na totalidade. É que os cientistas acreditam que nenhuma estrela morta, por maior que seja, possa ter sido criado um buraco negro tão grande. Por isso, é possível que ele tenha nascido da fusão de outros buracos negros mais pequenos.

Agora, o novo buraco negro resultado da estrondosa colisão deve ter formado outro buraco negro com a massa de 80 sóis. Isso está de acordo com as previsões de Stephen Hawking, o astrofísico que sugeriu que, quando dois buracos negros se juntam, a área do novo buraco negro vai ser mais pequena do que a soma daqueles que lhe deram origem. Por isso, o corpo celeste na origem desta onda gravitacional deve ser um verdadeiro agregador de outros buracos negros.

As únicas coisas que podemos saber sobre os buracos negros é a velocidade a que rodam sobre eles próprios e a massa, por isso é que John Wheeler, um dos últimos colaboradores de Albert Einstein, dizia que os buracos negros “não têm ‘cabelo’”, ou seja, não desvendam grandes pormenores sobre eles. Stephen Hawking discordava: dizia que talvez seja possível que os buracos negros emitam de vez em quando uma partícula que transporte informação sobre eles.

Enquanto a ideia de Hawking não for confirmada, os dados que temos ao nosso dispor não foram poucos para encontrar novidades neste fenómeno. Esta não é apenas a maior colisão entre dois buracos negros — regiões do espaço tão densos que nada, nem mesmo as partículas que compõem a luz, lhes consegue escapar — alguma vez observada pelos cientistas. Ao ocorrer a nove mil milhões de anos-luz da Terra, esta também se tornou na colisão entre dois buracos negros mais longínqua que alguma vez detectámos no espaço.

A tradução destes números? Mesmo que uma pessoa viajasse à velocidade da luz pelo espaço fora, a mais ou menos 300 milhões de metros por segundo, ela demoraria nove mil milhões de anos a chegar ao sítio onde a colisão aconteceu. Dava tempo para assistir a toda a evolução do planeta Terra desde o início até agora, segundo a segundo, duas vezes. Além disso, os cientistas nunca tinham visto buracos negros com a girar tão depressa e a colidir.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 888 de 05 de Dezembro de 2018.

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Autoria:Expresso das Ilhas,11 dez 2018 6:36

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  11 dez 2018 6:36

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