A colisão de corpos no espaço teve um papel crucial na formação de planetas. Por isso, há várias décadas que os cientistas têm tentado compreender o impacto dos asteróides na Terra através da datação do estudo das rochas à volta das crateras. Mas não tem sido fácil: as crateras mais antigas no nosso planeta (que são poucas) têm sido degradadas pelo vento, tempestades e outros processos geológicos.
Como estes mecanismos não estão presentes na Lua, o estudo das crateras no nosso satélite natural pode ser uma boa ajuda para percebermos as da Terra. “A Lua é como uma cápsula do tempo que nos ajuda a perceber a Terra. Percebemos que a Lua partilha connosco um bombardeamento histórico semelhante”, considera William Bottke, do Instituto de Investigação do Sudoeste (Estados Unidos) e um dos autores dum artigo publicado sexta-feira passada na revista científica Science, citado pelo jornal Público.
Através de imagens e dados térmicos recolhidos pela sonda Lunar Reconaissance Orbiter, os cientistas estimaram que todas as grandes crateras (com mais de dez quilómetros de diâmetro) à volta da Lua têm menos de mil milhões de anos. Enquanto essas crateras estão repletas de rochas, as mais velhas são mais lisas.
A partir destes dados, a equipa percebeu então que a taxa de formação de grandes crateras na Lua aumentou entre duas a três vezes há 290 milhões de anos, no final da era Paleozóica. Contudo, desconhece-se o motivo. “Poderá estar relacionado com grandes colisões que tiveram lugar há mais de 300 milhões de anos na cintura principal de asteróides entre as órbitas de Marte e Júpiter, o que pode ter criado destroços que depois tenham penetrado no sistema solar interior”, lê-se num comunicado do Instituto de Investigação do Sudoeste.
“Os nossos resultados também têm implicações para a história da vida, que é marcada por extinções e rápidas evoluções de novas espécies”, considera William Bottke. “Embora as forças que levam a esses acontecimentos sejam complexas como grandes erupções vulcânicas, os impactos de asteróides tiveram certamente um papel nesta permanente saga.” Afinal, por exemplo, foi o impacto de um asteróide na costa do México que esteve envolvido na extinção dos dinossauros há cerca de 65 milhões de anos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 895 de 23 de Janeiro de 2019.