Ciência: Porque o tomateiro adoece? O agente invisível causador de grandes perdas(I)

PorExpresso das Ilhas,15 mar 2019 11:42

​A elaboração deste artigo foi motivada pelo aparecimento no ano de 2018, de duas publicações científicas, com os títulos de “First report of the root-knot nematode Meloidogyne incognita on tomato in Cape Verde” e “First report of the lesion nematodes: Pratylenchus brachyurus and Pratulenchus delattrei on tomato (Solanum lycopersicum L.) plants in Cape Verde”, em revistas científicas internacionais especializadas em estudos sobre novas doenças de plantas, designadamente “Plant Disease” e ”Helminthologia”, respetivamente. Cientistas da Polónia como também investigadores nacionais (da Uni-CV e do INIDA) são os autores dessas publicações (ver detalhes no fim do texto).

Os referidos artigos tratam de problemas fitossanitários de Cabo Verde, ou mais especificamente, revelam pela primeira vez a presença de causadores de doenças de tomateiro nos nossos solos.

O tomate é indispensável em várias e deliciosas receitas tradicionais, e também um dos ingrediente-chave de inúmeras saladas. Rico em nutrientes e vitaminas ele é, sem dúvida, um grande aliado da nossa saúde. É comum que uma dieta rica em tomate reduz o risco de ataques cardíacos e aterosclerose, retarda o processo de envelhecimento, tem efeito anti-cancerígeno, diminui a pressão sanguínea e atua positivamente sobre trabalho do coração, além de melhorar a imunidade e ajudar na digestão.

A popularidade do tomate na mesa do consumidor cabo-verdiano, bem como no mercado turístico é evidenciada pelas áreas de cultivo em constante crescimento nas diferentes ilhas do Arquipélago.

De ano para ano aumenta o interesse sobre formas mais eficazes de cultivar este vegetal como também sobre as causas que, por vezes, estão ligadas à sua fraca produtividade. Por norma, plantas abastecidas de água e de todos os nutrientes indispensáveis e também em equilíbrio com fatores ambientais, são mais saudáveis porque são capazes de reagir adequadamente a todos os fatores patogénicos.

Infelizmente, a monocultura, a depleção ou esgotamento do solo, a contaminação com produtos químicos, o enfraquecimento das plantas devido a tratamentos inadequados, a falta de inimigos naturais mais frequentemente destruídos por pesticidas – são fatores que contribuem para o aparecimento de plantas doentes nos campos.

E assim, no cultivo do tomate observa-se frequentemente o amarelecimento de folhas, plantas murchas no período mais quente do dia, mesmo com a humidade ideal do solo. As plantas doentes crescem mais lentamente em comparação com as vizinhas saudáveis. A produtividade dessas plantas é mais fraca, uma vez que elas produzem menos frutos e, por vezes, de tamanho menor. Em casos extremos, as plantas morrem nos estágios iniciais do seu desenvolvimento.

Como resultado da pesquisa realizadaa partir do solo em torno das raízes do tomate, três espécies de nemátodos (vermes redondos) foram isoladas e identificadas. Seus nomes encontram-se nos títulos das publicações acima referidas. Importa aqui salientar que, as espécies de nemátodos em questão são cosmopolitas, isto é, são comumente encontradas em muitos países em quase todos os continentes. Pela primeira vez, elas foram isoladas das raízes das plantas de tomate originadas de Cabo Verde. As amostras das raízes de tomateiro juntamente com a camada de solo foram recolhidasem junho de 2015. As amostras, devidamente empacotadas e acompanhadas dos certificados e licenças fitossanitários exigidos foram transportadas para a Polónia. O isolamento e a identificação morfológica e molecular feitas no Museu e Instituto de Zoologia da Academia de Ciências Polaca não deixaram nenhumas dúvidas. O solo e as plantas no campo visitado são povoados por vermes microscópicos, parasitas de plantas.

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Os nemátodos são um dos maiores e mais diversos grupos de organismos do mundo. Existem milhares de espécies de nemátodos, algumas benéficas e outras prejudiciais. Os nemátodos adaptaram-se a viver em quase todos os ambientes do nosso planeta – habitam os vales e as montanhas, nas regiões polares e trópicas, encontram-se em água doce, água do mar e no meio terrestre.

Nesta parte do artigo, daremos mais atenção àqueles que representam o ambiente terrestre, com particular enfoque nos nemátodos parasitas de plantas, cuja boca é equipada com um estilete retrátil (semelhante a uma agulha médica) usado para sugar o conteúdo de células vegetais vivas. São como moreias microscópicas escondidas nos tecidos de plantas, ou em pequenas partículas de água retidas no solo ao redor da raiz. Não é difícil de adivinhar que, se eles se alimentam dos tecidos das plantas cultivadas, levam a uma diminuição do potencial produtivo das mesmas. De acordo com American Phytopathological Society (Sociedade Americana de Fitopatologia), os nemátodos causam 14% das perdas em plantações no mundo, estimadas em 100 milhões de US dólares por ano.

Fica aqui o convite para a leitura do próximo artigo, que descreverá com maior detalhe os sintomas da alimentação de nemátodos nas raízes do tomate cultivado em Cabo Verde.

Cabeça de nemátodo com um estilete visível
Cabeça de nemátodo com um estilete visível

Nemátodo que ataca as raízes do tomateiro. O comprimento do seu corpo (cerca de 0,3 mm) está próximo do diâmetro de um cabelo humano
Nemátodo que ataca as raízes do tomateiro. O comprimento do seu corpo (cerca de 0,3 mm) está próximo do diâmetro de um cabelo humano

Flis, Ł., Dobosz, R., Winiszewska, G., Rybarczyk-Mydłowska, K., Malewski, T., Wasilewska-Nascimento, B., Silva, G. D., 2018. First report of the root-knot nematode Meloidogyne incognita on tomato in Cape Verde. Plant Disease, 102, 1: 253.

Flis, Ł., Dobosz, R., Rybarczyk-Mydłowska, K., Wasilewska-Nascimento, B., Kubicz, M., Winiszewska, G., 2018. First report of the lesion nematodes: Pratylenchus brachyurus and Pratulenchus delattrei on tomato (Solanum lycopersicum L.) plants in Cape Verde. Helminthologia, 55, 1: 88-94.

Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 902 de 13 de Março de 2019.

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Autoria:Expresso das Ilhas,15 mar 2019 11:42

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 mar 2019 11:42

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