É tido como um dos maiores desafios da medicina moderna.
O aumento de casos detectados de bactérias super-resistentes tem deixado em alerta a comunidade científica. Até agora, os casos têm sido erradicados mesmo que com alguma resistência. No entanto, as bactérias têm evoluído de tal forma que o combate tem sido cada vez mais exigente.
Este é precisamente o caso do Candida auris. Este nome é, provavelmente, desconhecido para a maior parte do público, explica o Observador. Poucos serão os que já ouviram falar deste fungo super-resistente que tem vindo a propagar-se por todo o mundo — e a grande velocidade — desde que foi detectadopela primeira vez em 2009, no Japão. Mas em apenas dez anos já chegou a vários dos maiores países do mundo e figura agora no topo das prioridades do combate a estes fungos.
O Candida auris tem um comportamento que foge ao padrão tido como normal na maioria dos fungos. Ao contrário do que sucede com os fungos, este resiste a quase todos os tipos de antifúngicos e à maioria dos desinfetantes utilizados nos centros hospitalares, conseguindo sobreviver na superfície da pele dos doentes. A sua taxa de mortalidade chegou, em alguns dos casos, a 70%. OThe New York Timesconta, num artigo publicado sábado passado, que houve até casos em que os hospitais onde o fungo foi detetado foram obrigados a remover o chão e parte do telhado para a erradicar de vez. Além das ocorrências em Espanha, registaram-se casos no Reino Unido, na Índia, no Paquistão, na Venezuela e nos Estados Unidos.
O fungo instala-se sobretudo em pessoas com o sistema imunitário mais debilitado, como os doentes de longa duração ou idosos. Na maioria dos casos, a sua atuação é letal. Mesmo depois de causar a morte dos seus portadores, o fungo continua a espalhar-se não só pelo corpo como por toda a habitação.
Sem antifúngicos capazes de lhe fazer frente, são necessárias várias tentativas para a extinguir por completo. Até que seja completada a erradicação, o fungo continua a multiplicar-se e chega mesmo a infectar outros doentes no mesmo centro hospitalar, atrasando e dificultando o combate.
O fungo alastra-se pelo planeta à medida que o silêncio sobre a sua existência se vai mantendo. Em alguns casos, os hospitais recusam-se a prestar informações sobre as medidas de combate ao fungo aos doentes dos hospitais infectados.
Kevin Kavanagh é um dos cientistas que não concordam com o silêncio das instituições responsáveis pelo combate a este fungo. Citado pelo The New York Times, o académico de Kentucky pergunta: “Porque raio é que estamos a ler notícias sobre um surto que aconteceu há quase um ano e meio em vez de terem feito manchetes no dia em que se detetou o fungo?“, questiona.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 906 de 10 de Abril de 2019.