A quinta geração (5G) da internet "é um estímulo à investigação principalmente porque traz muitas áreas diferentes", afirma Susana Sargento investigadora do Instituto de Telecomunicações e docente da Universidade de Aveiro, à Lusa. A investigadora prevê que nos próximos "dois, três anos" alguns dos protótipos desenvolvidos para esta tecnologia estejam em funcionamento.
"O 5G permite que possamos olhar para outras áreas do quotidiano do trabalho e melhorá-las", frisa, apontado que as suas aplicações são as mais diversas, da educação à saúde, à condução automóvel e às cidades.
"Hoje em dia já se fala de operações (cirúrgicas) remotas", em que "mesmo que a pessoa esteja na China e tenhamos um equipamento aqui, a comunicação é completamente directa", aponta, acrescentando a condução autónoma, em que o veículo tem de "saber o que vai fazer" tendo toda a informação de que precisa da estrada, dos obstáculos e do ambiente que o rodeia em tempo real, ou as cidades, que terão "milhões de sensores espalhados" a gerar dados em tempo real.
Em resumo, "o 5G é para a saúde, para uma cidade, para tentar optimizar a indústria" e também "é para a arte", salienta.
Luís Correia, professor do Instituto Superior Técnico na área das telecomunicações, aponta que a tecnologia vai permitir "aumentar eficiência e reduzir custos" e possibilitar às empresas a venda de novos serviços.
"O 5G vem trazer, ao contrário das gerações anteriores, uma possibilidade muito grande de as empresas, as indústrias, tudo o que tem um sector económico e empresarial, poderem definir, usar, vender novos serviços muito para além daquilo que fazem hoje em dia", explica o também investigador do INESC-ID (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento).
"Por outro lado, a utilização do 5G permite também aumentar a eficiência e reduzir custos em muitas áreas, desde a produção à área dos edifícios inteligentes e, portanto, tem um enorme contributo para a economia", salienta, apontando aplicações da tecnologia na indústria, mas também na medicina, só possíveis com o 5G devido à sua baixa latência (o tempo entre a ordem e a acção).
João Santos, co-coordenador do projeto V2X da Bosch Car Muldimedia, em Braga, prevê o início dos carros autónomos em Portugal a partir de 2025, atingindo o seu pico em 2050.
"A Bosch tem inúmeros projetos sobre o 5G, espalhados pelas mais diversas localizações do mundo". Em Braga "está a decorrer o projecto Easy Ride, que é um projecto para a mobilidade do futuro", com "um elevado foco com a tecnologia 5G", desenvolvido em parceria com a Universidade do Minho.
O projecto é focado nas várias vertentes autónomas: o veículo terá um 'cockpit' inteligente, de maneira a proporcionar uma viagem personalizada ao ocupante, e, através de sensores, obtém informação sobre o estado do próprio automóvel e do que o rodeia - ambiente, outros veículos autónomos, veículos de duas rodas, peões, entre outros.
"Todos estes sensores geram uma quantidade de dados enorme, terá que haver uma comunicação rápida e fiável" para que se consiga "transmitir esta informação" e "é aí que entra o 5G", salienta o responsável da Bosch.
"Vai ser uma mudança de paradigma da condução, porque o condutor não vai ter que se ocupar com o acto de conduzir".
A tecnologia de quinta geração gera um enorme volume de dados, porque todos os dispositivos estarão interligados, o que, para José Tribolet, investigador emérito do INESC, não deve gerar medo, mas antes frisar a importância de mecanismos de regulação para verificar se os dados estão a ser transformados em "informação de forma adequada".
A tecnologia permite a intercomunicação entre milhares de dispositivos que geram "uma imensidão de dados" e a informação recolhida "vai ajudar a suportar os seres humanos, ou os apoios aos seres humanos, com máquinas com inteligência artificial a tomarem decisões que vão mudar o estado do mundo", explica.
Neste cenário, "a matriz, a pedra basilar sobre a qual assenta toda a fundamentação da regulação ética e dos normativos legais" deve ser que "a responsabilidade da acção está sempre em seres humanos individuais", salienta.
"Não aceito em caso nenhum que se delegue a responsabilidade pelos actos em máquinas", remata José Tribolet.