O espanhol Alberto Queiruga, que falava à Inforpress, é o responsável pela fase de recolha do Estudo de Micro-plásticos e Meso-plástico, da Organização Não Governamental (ONG) Biosfera Cabo Verde, e coordenado pela Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), que pretende recolher amostras nas praias para determinar o nível de contaminação plástica dos locais com elevado valor em biodiversidade.
Este projecto visa, segundo o técnico formado em Ciências Ambientais, uma avaliação geral da abundância de plástico em todas as costas das ilhas da Macaronésia – Cabo Verde, Canárias, Açores e Madeira – utilizando uma metodologia comum e com base nos resultados.
Vão ser identificadas as zonas de acumulação significativa, conhecidas como ´hotspots´, para uma monitorização mais detalhada durante um período mais longo.
No caso de Cabo Verde, a iniciativa teve arranque em São Vicente e de seguida será a ilha de Santa Luzia a contemplada.
“Estamos a recolher as amostras nas ilhas de São Vicente e Santa Luzia, depois mandamos para a Uni-CV e vão ser eles a fazer a análise”, explicou Alberto Queiruga, adiantando que as recolhas em São Vicente já terminaram e abarcaram a Praia Grande e a praia de São Pedro, norte e sul da ilha.
“Para o estudo é muito importante ter essa amostra da parte norte e parte sul da ilha, porque a quantidade de lixo, que está a chegar à costa é muito diferente por causa das correntes marinhas e outras razões”, sublinhou a mesma fonte, adiantando ser cedo para um diagnóstico, mas que “já se sabe que no norte de São Vicente estão acumulados mais micro-plásticos e meso-plásticos”.
Consideram-se micro-plásticos as partículas que vão de um milímetro a cinco milímetros e os meso-plásticos são as de cinco a 25 milímetros e ainda existem as partículas abaixo dos cinco milímetros, chamados de nano-plásticos, mas que não estão abarcados no estudo.
Após a fase de recolha, os técnicos da Uni-CV fazem uma separação “mais intensa” no laboratório, com medições e classificação por tamanho, cores e por tipo de plástico.
Alberto Queiruga apontou algumas vantagens deste estudo em “várias vertentes”, entre estas o facto de permitir melhor limpeza das praias, mas também para protecção e para adequar as leis ambientais do País.
Aspectos, que, ajuntou, estão contemplados num novo projecto de conservação marinha da Biosfera, que pretende promover a economia circular.
“É importante ter primeiro um estudo para se ver o que está a acontecer e ver quais as áreas mais importantes de trabalho e depois através desse projecto da Biosfera tentar resolver o problema do lixo”, considerou o técnico, adiantando estarem à procura de financiamento para implementar o projecto.
O coordenador da ONG frisou ainda os problemas relacionados com o lixo nas praias, que “não é muito bom” para o turismo e nem para a economia do País.
Mas, na vertente ecológica e de saúde, a mesma fonte realçou a injecção de micro-plásticos na cadeia alimentar, com os animais mais pequenos a comer e bio-acumular as partículas, que depois chegam aos corpos dos seres humanos.
“Isto sem falar na libertação de compostos prejudiciais ao ambiente”, finalizou Alberto Queiruga.
A recolha em Santa Luzia deve começar a partir da próxima semana e inclui a Praia dos Achados e a Praia Francisca, norte e sul da ilha.