Como os humanos, as formigas se isolam umas das outras quando enfrentam uma doença contagiosa. Como os humanos, os babuínos evitam os indivíduos infectados. E, como os humanos, morcegos doentes reduzem seus contatos aos parentes mais próximos (suas mães). Mas uma revisão das estratégias que os animais usam para enfrentar as suas próprias epidemias mostra duas situações menos habituais no caso dos humanos: entre os insectos sociais, pode ocorrer a expulsão violenta dos infectados, mas também os doentes, quando sentem a proximidade da morte, se afastam para sempre de forma voluntária, a fim de proteger a colónia.
O autoisolamento passivo talvez seja a estratégia mais universal, incorporada à fisiologia animal (inclusive humana). Assim como fazem as pessoas gripadas, indivíduos de diversas espécies entram numa espécie de letargia que os leva a reduzir a interação com o resto do grupo. Quanto menor o contacto, menor o contágio. Observa o El País.
A fisiologia também serve para dar pistas aos saudáveis sobre quem precisa ser isolado. Segundo o El País, entre os mandris (parentes próximos dos babuínos), observou-se que os não infectados se tornam menos disponíveis para pentear os membros do grupo que estiverem infestados com um parasita intestinal. E como sabem? Porque as fezes dos animais infectados pelos protozoários têm um cheiro diferente. Aliás, os mandris saudáveis deixam justamente de limpar e retirar pulgas na zona ao redor do ânus dos doentes.
Os insetos sociais, como as formigas, são os animais que mais desenvolveram estratégias e mudanças de comportamento para frear contágios. Algumas são de caráter altruísta, como a praticada por cupins de madeira húmida, que começam a vibrar em questão de minutos quando esporos de um determinado fungo grudam no seu corpo. Essa vibração alerta os demais cupins, que se afastam dos atingidos. Também há violência. Assim, as abelhas melíferas expulsam as infectadas à força da sua colmeia. Tudo pela colónia.
“As formigas desenvolveram uma grande quantidade de mecanismos para diminuir o risco de epidemias e, como são uma espécie social, como nós, talvez possamos nos inspirar em algumas de suas soluções”, propõe Stroeymeyt, pesquisador de comportamento animal na Universidade do Texas em Austin (EUA), citado pela mesma fonte.
“Por exemplo, elas praticam a quarentena e o distanciamento social proativo, como temos feito durante a pandemia de covid-19, por isso é provável que sejam medidas muito efetivas para combater doenças”, acrescenta.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1007 de 17 de Março de 2021.