Já é usada pelo menos desde os anos 60 na luta contra a lepra, mas há evidências que levam a crer que o uso da clofazimina não se fica por aí e que pode ser útil no tratamento de vários coronavírus, incluindo o SARS-CoV-2, indica umestudo publicado na revista científicaNaturena passada terça-feira, 17 de Março, noticia o jornal Público.
Há vários meses que uma equipa composta por médicos nos EUA e em Hong Kong procurava encontrar um fármaco para o tratamento da covid-19, a juntar aos três que já são usados nos hospitais. Reviram quase 12.000 medicamentos (já em uso no tratamento de outras doenças) até se cruzarem com a clofazimina, que se destacou pelos seus resultados em células humanasin vitroe em ratinhos infectados com SARS-CoV-2. E, face aos resultados, os especialistas querem experimentar o mais depressa possível em pessoas infectadas.
“Os nossos dados oferecem algumas evidências de que a clofazimina pode ter um papel no controlo da pandemia actual de SARS-CoV-2 e, ainda mais importante, de coronavírus que possam surgir no futuro”, lê-se na introdução do estudo, citado pela mesma fonte.
No tratamento da covid-19 já são usados pelo menos três fármacos em todo o mundo. Adexametasona, que reduz a mortalidade dos doentes mais graves em 17%, e que, quando administrada em conjunto com otocilizumab, pensado para tratar a artrite reumatóide, pode salvar uma pessoa em cada dois doentes graves. O terceiro fármaco usado éoremdesivir, que acelera o tempo de recuperação de alguns indivíduos hospitalizados.
A clofazimina apresenta uma vantagem face a esses medicamentos: pode tomar-se por via oral e não venosa, o que permite que seja tomada em casa e não obriga à hospitalização. É, também, um tratamento barato.De acordo com oEl País, uma dose diária do medicamento vendido com o nome Lamprene tem o preço de 1,5 euros.
Tudo isto faz com que esta substância seja “a candidata ideal para tratar a covid-19”, resume Sumit Chanda, imunologista do instituto de investigação médica de Sanford Burnham Prebys, nos EUA, e um dos autores do estudo. “É um medicamento seguro, acessível, fácil de fabricar, pode tomar-se por via oral e pode distribuir-se de forma global”, acrescenta o investigador. “Esperamos poder experimentar este fármaco num ensaio de fase 2 com pessoas que se infectaram com o SARS-CoV-2, mas que não foram hospitalizadas”, cita o comunicado de imprensa.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1008 de 24 de Março de 2021.