Quando uma lesão ou doença priva uma pessoa da capacidade de se mover, a actividade neural do cérebro para caminhar, pegar numa chávena ou dizer uma frase permanece.
Algumas pessoas que perderam o uso das mãos conseguem usar um computador com reconhecimento de fala. Para aqueles que têm dificuldade em falar, os cientistas têm desenvolvido outras formas de os ajudar a comunicar.
Os cientistas estão a explorar várias formas de as pessoas com deficiência conseguirem comunicar com os seus pensamentos. Agora, pela primeira vez, relata o site zap.aeiou.pt, uma equipa de investigadores decifrou a actividade cerebral associada à tentativa de escrever cartas à mão.
A equipa trabalhou com um participante de 65 anos que teve uma lesão medular que o deixou paralisado do pescoço para baixo. Jaimie Henderson, um neurocirurgião da Universidade de Stanford, implantou dois minúsculos sensores na parte do cérebro que controla a mão e o braço.
Usando sinais que os sensores captaram de neurónios individuais quando o homem se imaginou a escrever, um algoritmo de aprendizagem de máquina reconheceu os padrõesque o cérebro produzia com cada letra. Entretanto, o sistema exibia o texto numa tela – em tempo real.
Segundo um comunicado, citado pela mesma fonte, o participante escreveu 90 caracteres por minuto – mais do dobro do recorde anterior de digitação com esta “interface cérebro-computador”.
Este interface cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês) chamado “Brain-to-Text” é tão rápido porque cada letra elicia um padrão de atividade altamente distinto, tornando relativamente fácil para o algoritmo distingui-los uns dos outros, afirmou o neurocientista Frank Willett.
Segundo Krishna Shenoy, investigadora do Howard Hughes Medical Institute da Universidade de Stanford, esta inovação poderia, com mais desenvolvimento, permitir que pessoas com paralisia digitassem rapidamente sem usar as mãos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1016 de 19 de Maio de 2021.