Ao contrário dos seus parentes terrestres, que usam a glicose como fonte de energia, os espermatozoides dos golfinhos metabolizam os ácidos gordos para permitir a sua mobilidade e adquirir a capacidade de fertilizar o óvulo, conta a agência Europa Press.
Isto porque, há 50 milhões de anos, quando alguns herbívoros decidiram voltar ao mar, tiveram de evoluir e mudar a sua morfologia. O seu metabolismo também mudou drasticamente ao substituir a alimentação vegetal por uma dieta rica em gordura e proteína, baseada no consumo de peixe. Esta transformação contribuiu para a adaptação às novas condições de falta de oxigénio durante longos períodos de tempo.
Nestas novas condições, os seus órgãos reprodutores e estratégias reprodutivas também passaram por grandes transformações. Por exemplo, os golfinhos perderam as chamadas vesículas seminais, que produzem o líquido seminal, pelo que a fonte de energia para poder mover-se e fertilizar o ovócito teve de ser acumulada no seu interior.
“Descobrimos que muitas das enzimas da via glicolítica, responsáveis por metabolizar a glicose no testículo, estão inativadas nos golfinhos. Isto ocorre porque a via que os espermatozoides usam para produzir energia e poder mover-se é a fosforilação oxidativa de lípidos. Por isso, supomos que a espécie passou por uma adaptação extraordinária, imprescindível para se reproduzir nas novas condições marinhas”, disse Gutiérrez-Adán, um dos autores do estudo publicado, no final de Junho, na revista científica Current Biology.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1025 de 21 de Julho de 2021.