Defeito do sistema imunológico é responsável por 20% das mortes por COVID-19

PorExpresso das Ilhas,20 ago 2021 10:29

Um estudo publicado esta quinta-feira na Science Immunology, que analisou mais de 3.500 pacientes em estado crítico devido à COVID-19, mostra que que quase 14% dos pacientes gravemente enfermos produziam um tipo de proteína do sistema imunológico que, longe de protegê-los contra o vírus, exacerba seus efeitos.

Dois estudos esclarecem hoje por que algumas pessoas contraíram a infecção do coronavírus sem apresentar problemas enquanto outras adoeceram até a morte. Um dos estudos aponta que quase 20% das mortes por COVID-19 se devem ao fato de os pacientes produzirem um tipo de proteína do sistema imunológico que, longe de protegê-los contra o vírus, exacerba seus efeitos.

Conforme o El País, há quase um ano um consórcio internacional de cientistas e médicos já alertava que 10% dos pacientes produziam autoanticorpos, proteínas do sistema imunológico que inexplicavelmente se voltam contra o organismo do paciente.

Os anticorpos defeituosos atacam os interferons tipo 1, um conjunto de moléculas fundamentais porque, logo depois da entrada do vírus no corpo, eles se encarregam de interceptá-lo, disparando um alarme geral em todos os tecidos para  as células activem o seu maquinário de protecção.

O bloqueio dessa molécula é suficiente para que a infecção se agrave e ponha em risco a vida do paciente.

“Esses novos estudos realizados pelo mesmo consórcio são muito mais completos, pois já analisaram mais de 3.500 pacientes em estado crítico por causa da COVID-19. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira na Science Immunology e mostram que quase 14% dos pacientes gravemente enfermos tinham esses anticorpos defeituosos”, lê-se.

O estudo, cita a mesma fonte, mostra também que os autoanticorpos são muito mais comuns em pessoas de idade avançada.

Cerca de 6% das pessoas com mais de 80 anos têm esses autoanticorpos presentes no organismo antes da entrada do vírus, enquanto apenas 0,18% das pessoas entre 18 e 69 anos os desenvolvem, de acordo com o estudo.

A presença desses autoanticorpos também é maior em pacientes com algumas doenças imunológicas prévias, como o timoma, que afecta o timo, espécie de quartel onde os membros do sistema imunológico são treinados para diferenciar quais moléculas são suas e não devem ser atacadas e quais pertencem a agentes patogénicos e têm que ser aniquiladas.

“É possível que parte das reinfecções que vemos nas pessoas vacinadas se devam a esses autoanticorpos”, explica Carlos Rodríguez-Gallego, imunologista do Hospital Universitário de Gran Canaria Doctor Negrín e co-autor do estudo.

“É lógico pensar que a vacina também protege as pessoas que possuem esses autoanticorpos. Esses novos dados devem ser usados para seleccionar bem os grupos de risco que poderiam beneficiar de uma terceira dose da vacina”, acrescenta Rodríguez-Gallego.

O médico lembra que agora é possível fazer um teste especial para detectar essas moléculas e, portanto, saber se uma pessoa infectada tem maior risco de sofrer de COVID-19 com gravidade.

Também aponta duas possibilidades de tratamento: nos primeiros dias da infecção, quando ainda quase não há sintomas, pode-se usar interferon. Se a doença já estiver avançada, seria necessário recorrer à plasmaférese, uma filtragem do sangue para eliminação de anticorpos malignos e outras moléculas inflamatórias.

Num segundo estudo, o mesmo consórcio esclarece uma das razões cruciais para que a COVID-19 esteja a ser mais letal para os homens. Trata-se de uma mutação no gene TLR7 que predispõe as pessoas a ficarem em estado grave pela COVID-19.

Este gene está no cromossomo X, o que torna os homens muito mais vulneráveis, já que eles possuem apenas uma cópia desse cromossomo enquanto as mulheres carregam duas, reduzindo significativamente o risco.

O trabalho avalia que esse defeito hereditário pode explicar quase 2% dos casos de pneumonia grave por COVID-19 em menores de 60 anos.

“Esta é uma das poucas evidências que realmente explica por que um subgrupo de pacientes piora e isto representa pouca esperança para eles”, reconhece Manel Juan, imunologista do Hospital Clínic, de Barcelona.

O médico lembra que uma das coisas que é preciso averiguar agora é se esses dois factores de risco também estão por trás de parte das reinfecções em pessoas totalmente vacinadas.

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Autoria:Expresso das Ilhas,20 ago 2021 10:29

Editado porSheilla Ribeiro  em  20 ago 2021 10:33

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